Se o mercado automóvel voltou a crescer nas vendas de novos em 2024, a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) indica que o parque existente continua a ser dominado por veículos cada vez mais envelhecidos, não só pela falta de incentivos para a aquisição de veículos mais recentes, mas também tendência de importação cada vez mais evidente, que não ajudam à meta de redução das emissões poluentes.

Embora exista uma maior consciencialização no momento da aquisição de veículos novos, tendo sido matriculados quase 20% de elétricos em 2024, o parque automóvel em Portugal continua a envelhecer, de acordo com os dados mais recentes avançados pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP), em conferência do balanço anual do ano passado.
1.5 milhão de automóveis com mais de 20 anos de idade.
Sem existir uma política abrangente de incentivo à substituição de carros mais velhos por modelos mais eficientes, o parque automóvel está a ser ainda influenciado pela importação de automóveis usados, muitos dos quais com idades até 10 anos (40% dos carros importados em 2024 tinham idade entre 5 e 10 anos), aumentando a idade média do parque de ligeiros de passageiros para 14 anos. Segundo os dados da ACAP, encontravam-se a circular em Portugal cerca de 1.5 milhão de automóveis com mais de 20 anos de idade.
A juntar a isso, o parque circulante de ligeiros de passageiros continua a ser dominado pelos veículos a gasóleo (55%), sendo que apenas 9% são de veículos de energias alternativas (3% de elétricos apenas).

Mercado a crescer
Fazendo o retrato do mercado, em 2024, foram vendidos 209.715 automóveis ligeiros de passageiros novos, ou seja, mais 5,1% em comparação com 2023. Os veículos movidos a energias alternativas continuam a liderar as matrículas dos automóveis ligeiros de passageiros novos, representando um peso de 57%, com destaque para os elétricos (BEV), com 41.757 matrículas nos ligeiros de passageiros, o que representa 20% do total de ligeiros de passageiros matriculados.
Comparando a quota de ligeiros de passageiros elétricos vendidos com as de outros países da União Europeia (UE), Portugal posiciona-se em sexto lugar a nível europeu, com 19,9% de matrículas, atrás de Dinamarca (51,5%), Suécia (35%), Países Baixos (35%), Finlândia (30%) e Bélgica (29%).

Fonte de receitas fiscais
Com um peso de 12,6% nas exportações de bens, o setor automóvel emprega 167 mil trabalhadores em Portugal, num panorama de 35 mil empresas. Em termos de receitas fiscais, contribuiu com 42.6 mil milhões de euros para a economia nacional, representando 7,7% da faturação da totalidade das empresas em Portugal. Os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) dizem respeito a 2023.
10.9 mil milhões em receitas fiscais
Já em 2024 gerou 10.9 mil milhões em receitas fiscais, isto é 17,8% das receitas fiscais do Estado, fruto de impostos diretos e indiretos e da venda e da produção. A este respeito, a produção automóvel nacional aumentou 4,5% no ano passado, com 332.546 unidades a deixarem as linhas de montagem em Portugal (ficando apenas atrás de 2019, com 345.688 unidades). Antevendo-se a possibilidade de imposição de tarifas suplementares dos Estados Unidos da América à Europa, a grande maioria das exportações são feitas para a Europa, com um peso de 87,6%, seguindo-se África, com 5,8%.

Incentivar a transição
Tendo em vigor uma meta de zero emissões de CO2 em 2035, a ACAP adverte que é necessário que os Governos implementem um sistema de incentivos à aquisição destes veículos e que, por outro lado, se invista numa rede de carregamento robusta para fazer face ao aumento da sua procura.
Entre as medidas que estão em cima da mesa e que podem vir a ser instituídas a nível europeu, aponta Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP, está a possibilidade de harmonizar os incentivos à compra de elétricos sob pena de se falharem as metas estabelecidas para a transição ambiental e da mobilidade.
“Essas metas foram definidas [de redução das emissões poluentes] e a indústria automóvel investiu cerca de 250 mil milhões de euros para se adaptar a esta nova tecnologia e cada vez há mais modelos que são lançados no mercado, prova que os construtores de automóveis foram parte da solução. Mas a União Europeia não não leu o sinal dos tempos e continuou passivamente à espera que os consumidores fossem comprar os veículos”, referiu o responsável da ACAP aos jornalistas.

“Para os particulares não há esse incentivos à compra e, portanto, aquilo que a ACAP tem dito é que os construtores fizeram o papel deles. Também os poderes públicos, a União Europeia e os governos nacionais têm de cumprir com o seu papel a dois níveis – que é incentivar a compra, isso em termos da coesão social para os particulares que não têm capacidade económica para adquirir esta nova tecnologia o poderem fazer e não ficarem excluídos de eletrificação e o segundo será com uma rede de carregamento em toda a União Europeia”, acrescentou, mostrando-se ainda expectante quanto às decisões a tomar pela UE nas próximas semanas.
“A Comissão Europeia Já marcou uma reunião para dia 30 deste mês com os construtores de automóveis e associações europeias e irão brevemente supostamente apresentar um plano que passará muito pela harmonização de incentivos nos vários países à compra dos veículos elétricos. De outra forma, os construtores não podem obrigar os seus clientes, digamos, a adquirir uma determinada tecnologia e têm neste momento uma espada sobre a cabeça que é o cumprimento das metas ou o pagamento de multas pesadas. Portanto, aguardamos aquilo que a Comissão irá anunciar nestas próximas semanas”.

Desafios para 2025
Perante os desafios que o setor automóvel enfrenta, a ACAP destaca a necessidade de se reforçar o Sistema de Abate de Veículos em Fim de Vida, alargando o seu âmbito além da aquisição de veículos elétricos e aumentando o número de veículos elegíveis no programa, promovendo a renovação da frota de forma mais inclusiva.
Reforçar o Sistema de Abate de Veículos em Fim de Vida
A associação defende que este regime é particularmente útil para empresas e pouco apto para os particulares, já que limita a sua adesão a quem compra um carro elétrico mandando para abate um modelo de combustão velho, conforme defende Pedro Lazarino, diretor-geral da Stellantis para Portugal.
“A nossa proposta tem ido no sentido de aligeirar o processo de transição energética e permitir que, por exemplo, os incentivos ao abate sejam para todas as viaturas com qualquer tipo de eletrificação e não puramente unidades de 100% elétricas, porque nas várias estatísticas que a ACAP apresentou, há ali uma que nos preocupa sobremaneira: estamos cada vez mais a ter uma componente muito significativa em Portugal de carros com 8 anos que não são seguramente contribuintes positivos para a redução da pegada de CO2 que todos buscamos”.

Paralelamente, a ACAP anunciou que mantém objetivos claros para a expansão da rede de postos de carregamento, vital para acompanhar o crescimento da mobilidade elétrica. Segundo os dados revelados, existem atualmente 167.356 veículos 100% elétricos e 132.139 híbridos “plug-in” em circulação, para uma rede que dispõe de 5766 postos de carregamento em janeiro de 2025 (57% semirrápidos, 33% rápidos, 5% ultrarrápidos e 5% normais).
Neste âmbito, a ACAP vai continuar a colaborar com a Mobi.e, aproveitando o Observatório criado para monitorizar e otimizar o desenvolvimento destas infraestruturas.
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