Primeiro avião comercial supersónico feito na América e sucessor espiritual do Concorde, o Boom Supersonic XB-1 quebrou a velocidade do som num voo de teste realizado na região desértica do Mojave, EUA. Os ensinamentos deste modelo serão aplicados no futuro avião comercial da Boom Supersonic, o Overture, que tem já diversas encomendas em "carteira".
No momento em que o Concorde parou de voar, a 26 de novembro de 2003, o nicho de mercado dos aviões comerciais supersónicos ficou em suspensão. Porém, a Boom Supersonic, empresa dos EUA, não desistiu do conceito e está já em fase avançada de testes com o XB-1, que serve de modelo de demonstração e validação das tecnologias a aplicar no futuro avião comercial supersónico, cujo nome será Overture.
Um marco importante foi alcançado nos últimos dias durante os testes realizados no espaço aéreo sobre o deserto do Mojave, EUA, com o XB-1 a superar a velocidade do som. Pilotado pelo piloto de testes da Boom, Tristan “Gepetto” Brandenburg, o XB-1 entrou num corredor supersónico e atingiu uma altitude de 35.290 pés, antes de acelerar até Mach 1.122 (ou 1207 km/h), quebrando a barreira do som pela primeira vez.
Historicamente, o desenvolvimento dos jatos supersónicos tem sido um trabalho conjunto de diferentes nações, mas a Boom Supersonic está a levar a cabo todo o desenvolvimento dos seus novos aviões de forma independente, sendo por isso a primeira vez que uma companhia deste género conseguiu atingir tal feito.
O XB-1 incorpora muitas das principais caraterísticas que serão encontradas no Overture, tais como construção em fibra de carbono, aumento de estabilidade digital e um sistema de visão de realidade aumentada para visibilidade de aterragem. Após o seu voo inaugural em março de 2024, o XB-1 completou uma série rigorosa de 11 voos de teste pilotados por humanos em condições cada vez mais difíceis para avaliar os sistemas e a aerodinâmica.
“O voo supersónico do XB-1 demonstra que a tecnologia para o voo supersónico de passageiros já chegou”, afirmou Blake Scholl, fundador e diretor executivo da Boom Supersonic. “Um pequeno grupo de engenheiros talentosos e dedicados conseguiu o que anteriormente exigia governos e milhares de milhões de dólares. A seguir, estamos a aumentar a tecnologia do XB-1 para o avião supersónico Overture. O nosso objetivo final é levar os benefícios do voo supersónico a todos”, concretizou.

Tecnologia digital
Quando chegar ao espaço aéreo, o Overture contará com tecnologias de ponta com um grande foco digital, incluído, por exemplo, um sistema de visão de realidade aumentada que pretende eliminar problemas de visibilidade decorrentes do formato.
Tanto o XB-1 como o Overture têm um nariz comprido e um elevado ângulo de ataque na descolagem e na aterragem, o que torna difícil para os pilotos verem a pista à sua frente, sendo por isso necessário a utilização de um sistema de visão de realidade aumentada para permitir uma excelente visibilidade da pista, com a companhia a eliminar a necessidade de contar com a complexidade de um nariz móvel como o do Concorde.

Mas também a aerodinâmica foi otimizada com recurso a ferramentas digitais, como simulações de dinâmica de fluidos computacional (CFD) para explorar milhares de formatos e configurações possíveis para o XB-1. O resultado é um “design” otimizado que combina segurança e estabilidade na descolagem e na aterragem com eficiência a velocidades supersónicas.
Parte do trabalho de otimização passou ainda pela criação de tomadas de ar a pensar em velocidades supersónicas, reduzindo a velocidade do ar supersónico para velocidades subsónicas, convertendo eficazmente a energia cinética em energia de pressão e permitindo que os motores a jato convencionais impulsionem o XB-1 desde a descolagem até ao voo supersónico. As lições aprendidas com o desenvolvimento das entradas de ar especializadas do XB-1 estão a ser aplicadas ao Overture e ao seu motor Symphony, projetado para funcionar com até 100% de combustível de aviação sustentável (SAF).
Regresso dos supersónicos
O primeiro voo supersónico do XB-1 marca, simultaneamente, o regresso aos voos supersónicos de aviões civis pilotados por humanos desde a retirada do Concorde há mais de 20 anos e uma nova etapa no regresso deste tipo de aviões com a chegada do Overture, aeronave que transportará entre 64 e 80 passageiros a velocidades até Mach 1.7, cerca do dobro da velocidade dos atuais aviões subsónicos, em mais de 600 rotas globais.
A comprovar a apetência por este tipo de avião, a Boom Supersonic garante ter já uma carteira de encomendas com 130 pedidos e pré-encomendas de companhias reputadas como a American Airlines, United Airlines e Japan Airlines.
Em 2024, a Boom concluiu a construção da Overture Superfactory em Greensboro, Carolina do Norte, que será dimensionada para produzir 66 aeronaves Overture por ano.
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