China vende gato por lebre
- Pedro Junceiro
- 25 de jun.
- 2 min de leitura
A indústria automóvel chinesa terá recorrido ao longo de vários anos a um esquema que lhe permitia aumentar o número de veículos novos matriculados, enviando-os depois para outros mercados, numa medida que aumentava também o peso das exportações.

Naquilo a que a Reuters dá o nome de “mercado cinzento”, a indústria automóvel chinesa terá utilizado ao longo dos anos um esquema no qual os construtores matriculavam veículos totalmente novos, de forma a cumprir as metas ambiciosas de crescimento, mas os quais eram depois enviados para outros mercados como usados. Desta forma, conseguiam também incrementar as exportações associadas a esta indústria.
De acordo com informações reveladas pela Reuters, que teve acesso a documentos do governo e a conversas com concessionários locais, muitos automóveis totalmente novos eram matriculados e depois exportados para outros países como veículos em segunda mão, embora sem nunca terem sido conduzidos, num esquema que tinha dois efeitos benéficos para a China: além de demonstrar a vitalidade e o crescimento da sua indústria automóvel, conseguia ainda solidificar os valores de exportação.
Os principais mercados de destino desses automóveis usados são a Rússia, Ásia Central e o Médio Oriente, alguns dos quais alvos de sanções por parte da Europa.
O “modus operandi” deste esquema foi agora revelado, sendo também particularmente simples: ao ser produzido, um automóvel é comprado diretamente por um exportador, sendo matriculado na China como veículo local. Porém, o veículo é imediatamente marcado como usado destinado à exportação, engrossando também o volume de vendas do fabricante para efeitos estatísticos.

Esta prática será mesmo apoiada pelas autoridades regionais por intermédio de licenças suplementares de exportação, descontos fiscais e de investimento na infraestrutura de exportação (por exemplo, facultando espaços de armazenamento perto de portos), segundo as informações divulgadas pela Reuters. Já o Governo central chinês não estará totalmente satisfeito com esta estratégia.
Ainda segundo as informações entretanto divulgadas, esta prática terá começado em 2019, quando a China abriu a porta à exportação de veículos usados para outros países, com Wang Meng, consultor da Associação de Concessionários Automóveis Chineses, a referir que, dos cerca de 436.000 automóveis de passageiros e comerciais exportados pela China em 2024, estima-se que 90% eram veículos de zero quilómetros.
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