Automóvel icónico da Ford está de volta à ação: o Capri! Agora, este modelo apresenta-se como um SUV com formato de "fastback" e produz-se apenas com motorizações elétricas, que partilha com o Explorer EV, tal como a plataforma de origem Volkswagen. Será uma boa ideia?!...
O Ford Capri original foi lançado em 1968 com base na plataforma da segunda geração do Cortina, com o qual partilhava quase tudo. Mas, além dos motores de 4 cilindros em linha, também utilizava mecânicas V4 (não é gralha!...) e V6 montadas noutros modelos da marca norte-americana. Fabricou-se na Alemanha até 1986 e em três gerações. Desenhou-o Philip T. Clark, que também tinha participado no conceção do estilo do primeiro Mustang.
Como o famoso “pony car” da Ford não era vendido no Velho Continente, o Capri foi uma espécie de “Mustang da Europa”.
Talvez a comparação seja um pouco abusiva, mas a verdade é que o Capri conquistou o seu estatuto e até estabeleceu o formato em meia lua do pilar traseiro como uma imagem de marca do modelo, um pouco como o “Hofmeister kink” dos BMW.
No final, acumulou 1,9 milhões de unidades vendidas, um êxito para um "coupé" com duas portas e quatro lugares que a publicidade da marca apregoava ser “o carro que você sempre prometeu a si próprio”, na tradução direta do original “the car you always promissed yourself”.
Uma questão de imagem
Talvez porque a produção foi muito alta e os preços eram acessíveis "q.b.", por estarem disponíveis motores com baixas cilindradas, o final de vida do Capri não foi fácil, com muitas unidades a perderem dignidade às mãos de proprietários negligentes, que os maltrataram e modificaram para lá de qualquer barreira do bom gosto. É provavel que tenha sido por isso que a Ford nunca sentiu a necessidade de recuperar o nome. Até agora.
E o “agora” é o início da era elétrica da Ford na Europa, que começou com o Explorer, SUV que apresentamos em detalhe nas páginas da edição 3 de E-AUTO, nas bancas, com capa de julho (contamos-lhe até as primeiras impressões de condução!). É sabido que o Explorer assenta na plataforma MEB do Grupo Volkswagen, por beneficiar de acordo entre as duas marcas firmado há já alguns anos, mas a produção dos elétricos da Ford para a Europa é feita pela própria marca, na histórica e fábrica de Colónia, na Alemanha, que foi recondicionada. O Capri é o segundo elemento da família nova de modelos, esperando-se que chegue ao mercado ainda antes do final do ano, não existindo os atrasos registados no Explorer.
No plano da Ford, mais dois elétricos: versão do Puma e modelo de que ainda não existem informações. Chamar-se-á Escort?!
A julgar por esta estratégia de recuperação de nomes icónicos, será que o próximo elétrico da Ford será o Escort?!... Uma coisa é certa, a fábrica de Colónia ficou com uma generosa capacidade de produção de elétricos e a VW, certamente, não terá problemas em fornecer tantas MEB quantas os norte-americanos precisarem.
O automóvel novo "ao vivo e a cores"
Numa primeira apresentação estática para um grupo restrito de jornalistas europeus, onde estivemos presentes, foi possível apreciar de perto o novo Capri. A primeira impressão vem da pose alta em relação ao solo, que faz lembrar o Polestar 2. Parte dessa impressão vem das rodas com pneus 235/45 R21 ou das molduras negras colocadas nos guarda-lamas e na base da carroçaria. De resto, as dimensões seguem de perto as do Explorer, com a mesma distância entre eixos (2,767 m) e um comprimento ligeiramente inferior (4,634 m "contra" 4,770 m).
A Ford recuperou o desenho dos pilares traseiros do Capri original. A frente também evoca o ícone, mas a interpretação é atual. Já a traseira não tem semelhanças com a original.
Por dentro, tanto o volante, como o "tablier" e até o monitor central deslizante central são idênticos aos do Explorer. Os bancos têm apoios de cabeça integrados e as cores escolhidas criam um ambiente mais desportivo, havendo ligeiramente menos espaço em altura no Capri do que SUV com que partilha (quase) tudo. Contudo, o tejadilho não penaliza muito este aspeto, não tanto quanto o perfil "fastback" da tampa da mala, que limita a altura disponível para cargas mais altas. Ainda assim, anunciam-se 570 litros de capacidade, mais que os 470 litros disponíveis no Explorer. A consola entre os bancos dianteiros é flexível e tem até 17 litros de capacidade.
Duas motorizações no lançamento
Quanto a motorizações, a Ford vai oferecer duas opções no lançamento. A primeira usa uma bateria com 77 kWh úteis, tem 286 cv, 545 Nm, tração às rodas de trás e autonomia de até 627 km, carregando a bateria de 10 a 80% em 28 minutos num carregador de 135 kW DC. A aceleração 0-100 km/h anunciada é de 6,4 segundos e a velocidade máxima está limitada a 180 km/h.
A segunda opção tem bateria com 79 kWh úteis, 340 cv, 545 Nm, tração às quatro rodas e percorrer até 592 km entre recargas do acumulador de energia. A bateria pode carregar-se em 185 kW DC de 10 a 80% em 26 minutos, A aceleração 0-100 km/h é de 5,3 segundos e a velocidade máxima, para proteção da autonomia, também está limitada eletronicamente a 180 km/h. Segundo a Ford, a versão menos potente pesa 2098 kg, enquanto a mais chega aos 2174 kg.
São as mesmas opções do Explorer, por isso é provável que a terceira versão anunciada para chegar ao SUV numa segunda fase da sua carreira comercial, também seja proposta neste Capri, ou seja, um modelo para posicionar na base da gama, com tração traseira, "apenas" 170 cv e bateria com 52 kWh de capacidade.
Tal como o Explorer, o Capri apresenta-se com dois níveis de equipamento, ambos muito bem recheados em matéria de elementos de conetividade, conforto (bancos incluem função de massagem) e assistências eletrónicas à condução, entre outros.
Num mercado totalmente dominado pelos SUV, não deixa de ser um risco propor-se um cinco portas do tipo "fastback crossover".
Talvez confie que o nome Capri e a versatilidade, que não difere muito do Explorer, sejam suficientes para convencer compradores que se lembram do homónimo original, ou mesmo os que nunca ouviram falar de tal coisa.
Comments