Estudo diz que as marcas são as responsáveis pelo aumento dos preços dos automóveis
- João Isaac
- 31 de mai.
- 3 min de leitura
De acordo com as conclusões de um estudo recentemente divulgadas, a indústria automóvel chinesa, o automóvel elétrico e as normas cada vez mais exigentes da União Europeia não são os principais responsáveis pela subida do preço dos automóveis.

O preço dos automóveis disparou nos últimos anos um pouco por toda a Europa. Não é por isso de estranhar, pelo menos nos países com menor poder de compra, que os seus respetivos parques automóvel estejam cada vez mais envelhecidos. Os condutores têm assim cada vez mais dificuldade em comprar um automóvel novo, mas os fabricantes apontam o dedo à União Europeia, às suas normas de emissões cada vez mais exigentes e à estratégia forçada de adesão à mobilidade 100% elétrica. A União Europeia, por sua vez, culpa as marcas de automóveis, sendo que não nos podemos igualmente esquecer do contributo da inflação para o momento delicado que a indústria atravessa.
Segundo um website espanhol especializado no setor automóvel, os nossos vizinhos ibéricos assistiram a um aumento de 40% no preço dos automóveis nos últimos 10 anos. Isto significa que um automóvel que em 2014/2015 custava cerca de 20.000 euros custará agora 28.000 euros. Aos compradores, restam, resumidamente, duas hipóteses: ou fazem um investimento adicional de 40% ou optam por um modelo de segmento inferior, por exemplo. Assim, e de forma a tentar procurar uma resposta mais suportada para esta tendência transversal a praticamente todos os mercados europeus, foi recentemente levado a cabo um estudo pela ONG francesa Institut Mobilités e pela consultora C-Ways que concluiu que os preços subiram porque os fabricantes assim o quiseram.

De acordo com dados oficiais da ACEA, em 2019 venderam-se 15,3 milhões de automóveis na Europa. Em 2024, apenas 10,3 milhões, sensivelmente um terço a menos. O estudo tentou por isso descobrir as razões para tão evidente queda, retirando da responsabilidade dos fabricantes as variáveis sobre as quais não têm qualquer controlo, como a volatilidade dos preços das matérias-primas, incorporando-as na análise separadamente de outras variáveis, essas sim, controláveis pelos construtores de automóveis, nomeadamente, a política de preços, as decisões relativas aos locais de fabrico e a tecnologia a implementar nos seus automóveis.
Entre 2020 e 2024, o estudo calculou que o aumento médio do preço dos veículos novos foi de 6.800 euros, ou seja, um aumento de 24%. Um salto significativo que inevitavelmente afastou do mercado uma grande parte dos compradores habituais — que agora compram veículos usados, provocando um aumento da procura e, consequentemente, dos preços. E se se vendem menos automóveis novos, a renovação do parque automóvel abrandará e as emissões, inevitavelmente, subirão.
Ainda que a análise realizada se tenha centrado no mercado francês, as conclusões são facilmente extrapoláveis para outros mercados europeus, uma vez que a maior parte da política de preços das marcas abrange toda a União Europeia. Assim, concluiu o estudo, do aumento de 24% verificado em França, apenas uma quarta parte se ficou a dever à inflação, na qual se incluem os custos laborais e das matérias-primas. Porém, algo que infelizmente não foi contemplado nos preços finais analisados no relatório foi a implementação das regulamentações Euro6Dfull e GSR2, uma das justificações usadas pelos principais fabricantes europeus na sua argumentação contra a UE.
Por outro lado, o estudo concluiu que pelo menos metade – e assim, a maior parte – do aumento de 24% verificado justificou-se pelas próprias políticas internas de definição de preços a praticar. Esta conclusão vem suportar a ideia de que os fabricantes têm vindo a optar, cada vez mais, por vender menos automóveis em termos de volume, mas apostando em margens de lucro mais elevadas. Esse poder de estabelecimento de preços foi levado a cabo, garante o estudo, por grupos como o Volkswagen, Renault e Stellantis. Neste aspeto, nem a própria Dacia escapa, com o estudo a garantir que a tendência de subida de preços vai continuar também na marca romena.

O relatório considera que ainda poderão ocorrer alguns aumentos de preços, devido a dois fatores adicionais, a inevitável continuação e amplificação da eletrificação e a desejada reorientação da cadeia de valor na Europa. Para o evitar, aponta duas opções: uma potencial intenção das marcas de baixarem os preços - o que pode contrariar a vontade dos acionistas, que ambicionam mais rentabilidade - e, por outro lado, um regresso aos segmentos tipicamente preferenciais das décadas anteriores, ou seja, produzir menos SUV e mais veículos utilitários e compactos, polivalentes e mais acessíveis.
Comments