As dificuldades que a indústria automóvel europeia já está a sentir estão a dar força ao Governo italiano na sua intenção de rever a meta de 2035 para a proibição da venda de automóveis com motor térmico na Europa. O primeiro passo é antecipar num ano o debate da situação na indústria para 2025.
Polémica desde o momento em que foi anunciada, a meta de 2035 para a abolição da venda de automóveis novos com motor de combustão interna na União Europeia (UE) volta a ser contestada pela Itália, com o Governo transalpino a salientar que essa transição irá colocar os construtores europeus em sérias dificuldades, sobretudo havendo a abertura aos construtores chineses.
Neste sentido, o Governo liderado por Giorgia Meloni está empenhado em dar início a um processo de revisão da meta europeia para a proibição de automóveis com motores de combustão interna, aproveitando a realização no dia 25 de setembro de uma conferência europeia sobre o setor automóvel, organizada pela Hungria, que detém atualmente a Presidência do Conselho Europeu.
Com o ministro da Indústria e do “Made in Italy” Adolfo Urso como figura de proa, Itália pretende que a análise da situação da indústria europeia seja antecipada num ano, estando atualmente marcada para 2026. Porém, as dificuldades que estão a ser anunciadas por alguns dos construtores europeus levam a Itália a querer um debate célere da data para essa discussão, percebendo-se que a intenção é rever também a própria meta estabelecida pela UE de 2035 como data limite para a comercialização de automóveis com motor de combustão.
Organizada pela Hungria, essa conferência que serve de preâmbulo para a discussão do tema automóvel na Europa, torna-se relevante pelo facto de, na mesma semana, existir uma reunião do Conselho Europeu que tem como tema central a competitividade do continente em termos económicos.
Eleito em maio deste ano como Presidente da Confindustria, Emanuele Orsini, tratou logo de identificar as políticas europeias de imposição da eletrificação como ameaças ao desenvolvimento económico e social do bloco europeu.
“A Europa precisa de trabalhar numa verdadeira política industrial comunitária e de desmantelar as atitudes ideológicas anti-industriais”, afirmou Orsini ainda em maio, que desde logo apontou o fim do automóvel com motor de combustão interna em 2035 como uma questão preocupante. “Não concordamos e continuaremos a dizê-lo, precisamos de neutralidade tecnológica”, sublinhou, temendo uma série de despedimentos e o encerramento de fábricas em solo transalpino.
O papel da Alemanha
Os alertas recentes do Grupo Volkswagen, que chegou a colocar em cima da mesa a possibilidade de fechar fábricas, até mesmo na Alemanha, estão a ser também tidos em conta por Itália como argumentos para convencer outros estados a apoiar a sua posição no “palco” europeu. Para Adolfo Ursi, este é um sinal de que o problema da indústria automóvel não é unicamente italiano, mas transversal a outros países, podendo vir a afetar a malha laboral, tanto direta, como indireta (aqui incidindo sobre a cadeia de fornecimento).
Apesar de ter demonstrado apoio à meta de 2035 para a conclusão das vendas de automóveis com motores de combustão, a Alemanha deixou claro que seria fundamental contar com a possibilidade de incluir os combustíveis sustentáveis como uma alternativa ao conceito de “emissões zero” inerente aos veículos elétricos, confiando que o papel dos e-fuels pode ser também importante na descarbonização.
Politicamente, é também uma questão sensível, já que a ascensão da direita mais radical, como é o caso da AFD, que venceu pelas primeiras vezes umas eleições estaduais na Alemanha, poderá forçar a que Berlim tome uma outra posição na União Europeia, sem que coloque em risco o foco na defesa do ambiente.
Outros países, também com governos mais à direita, como a Hungria ou a Eslováquia, poderão também gerar processos de atrito em relação à questão automóvel.
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