O departamento Mercedes-Benz Classic, dedicado a preservar o património da marca de Estugarda, restaurou um dos automóveis que inscreveu na mítica prova Targa Florio em 1924
Foi há exatamente um século que a Mercedes-Benz venceu a exigente Targa Florio com um automóvel idêntico a este recentemente restaurado pelo seu departamento Classic, agora de regresso às estradas. Equipado com um motor de dois litros, foi totalmente recuperado de acordo com os mais elevados padrões de autenticidade e será presença regular em eventos internacionais ao longo de 2024, celebrando a conquista de há 100 anos e a história de 130 anos de presença da marca alemã no mundo da competição. A Mercedes-Benz Classic documentou, em fotografia e vídeo, todo o processo de restauro.
"A Mercedes fez história no desporto automóvel com este automóvel de competição em 1924. Um século depois, o veículo pode agora ser novamente visto em ação no seu estado original, o que significa que a Mercedes-Benz Classic está a fazer história. Isto porque algo assim só é possível graças à experiência combinada do Mercedes-Benz Classic Centre, do Mercedes-Benz Classic Archive e de uma forte rede de especialistas. Este fascinante projeto torna tangível a força inovadora da nossa empresa desde os seus primórdios em 1886 até ao futuro", disse Marcus Breitschwerdt, Diretor do Mercedes-Benz Heritage.
Visto como um dos mais importantes eventos automobilísticos do mundo, a Targa Florio foi, nos anos 20, uma importante montra para a Mercedes-Benz devido à sua exclusão, no período pós-guerra, dos Grandes Prémios mundiais. Em 1921, a marca de Estugarda conquistou o segundo lugar da geral na prova siciliana, elevando a fasquia no ano seguinte graças a um piloto privado que levou um dos seus carros ao lugar mais alto do pódio.
Vermelho, como os italianos
Mas foi em 1924 que se estreou a sua nova “arma” desenvolvida por Ferdinand Porsche, Diretor Técnico e de Desenvolvimento da Daimler-Motoren-Gesellschaft a partir de abril de 1923, com base num projeto de Paul Daimler. Os três automóveis inscritos na Targa Florio e na Coppa Florio foram conduzidos de Estugarda até à Sicília e, como estratégia de corrida, apresentaram-se em prova com pintura vermelha ao contrário do habitual tom branco. Porquê? Para evitar surpresas com interferências dos fãs italianos durante a prova.
O piloto da Mercedes, Christian Werner, venceu a Targa Florio após um total de 432 quilómetros percorridos (quatro voltas de 108 quilómetros cada) com o carro número 10 e com um tempo de 6:32:37,4 horas. Foi a primeira vitória na Targa Florio alcançada por um piloto proveniente de fora de Itália.
Werner também liderou a equipa numa tripla vitória na classe para automóveis de corrida com uma cilindrada de até 2 litros. Na classificação geral, Christian Lautenschlager (número 32) terminou em 11º lugar e Alfred Neubauer (número 23) conquistou o 16º lugar.
A equipa Mercedes conquistou, igualmente, a Coppa Termini por ser a melhor equipa de fábrica e Werner foi ainda responsável por outro feito de destaque. Para se classificar para a Coppa Florio, era necessário completar mais uma volta ao extenso circuito. O piloto viria também a ganhar esta competição após um total de 8:17:1,4 horas de condução. Os seus companheiros de equipa terminaram em 9º (Lautenschlager) e 13º (Neubauer).
O detalhe do restauro
Mantendo o foco na autenticidade, a Mercedes-Benz Classic decidiu restaurar o histórico automóvel de competição - parte da coleção da marca - em 2022, visando apresentá-lo neste aniversário especial. Trata-se da unidade conduzida por Christian Lautenschlager em 1924, uma vez que o carro vencedor, pilotado por Werner, não sobreviveu à passagem do tempo. O veículo foi retirado do Museu da Mercedes-Benz e seguiu-se um meticuloso trabalho de análise, inventário e investigação no arquivo oficial da marca, trabalho feito em estreia colaboração com uma equipa de especialistas.
O motor de dois litros, equipado com compressor, foi totalmente revisto, incluindo reparações no bloco, retificação das árvores de cames e restauro das ligações roscadas de acordo com as especificações da época. A carroçaria foi totalmente restaurada à sua condição original respeitando os desenhos técnicos disponíveis e a nova pintura teve como base a análise de restos da tinta original ainda presente no automóvel, respeitando-se o tom e o método de aplicação da nova camada, neste caso, com pincel.
Uma vez que o automóvel será utilizado em eventos, a equipa decidiu proteger elementos originais mais sensíveis. Um bom exemplo disso é o volante, componente que será substituído por uma reprodução fiel nas suas aparições públicas. O seu regresso às estradas fez-se na pista de testes da Mercedes-Benz em Untertürkheim, o local onde foi construído há 100 anos.
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