Histórica fábrica de Mirafiori, em Itália, recebe a produção de transmissões eletrificadas de dupla embraiagem (eDCT) para os novos modelos eletrificados da Stellantis, com o seu CEO, Carlos Tavares, a dizer que é uma prova do compromisso para com Itália
A Stellantis deu início às operações de uma nova atividade de produção de transmissões eletrificadas de dupla embraiagem (eDCT) no seu histórico complexo de Mirafiori, em Itália, num investimento na ordem de 240 milhões de euros naquele local e na indústria automóvel do país. O resultado é a criação do Mirafiori Automotive Park 2030, centro polivalente que abrange todas as facetas do ciclo de vida automóvel, desde a conceção à reciclagem.
Ao longo das últimas semanas, a Stellantis tem sido alvo de críticas por parte de sindicatos e políticos italianos que temem o desinvestimento na malha industrial automóvel daquele país, algo que Carlos Tavares, o CEO da companhia, refutou liminarmente na recente apresentação do Alfa Romeo Milano, com o português a dizer que “a Stellantis está comprometida com Itália e que nos sentimos em casa em Itália”.
O responsável máximo da Stellantis sustentou-se ainda no investimento que está a ser feito em Itália ao nível das diferentes fábricas que o grupo tem naquele país. O Mirafiori Automotive Park 2030 é um dos três principais centros da Stellantis a nível mundial, integrando operações que abrangem todo o ciclo automóvel rumo à neutralidade carbónica que a companhia pretende alcançar em 2038 ao abrigo da estratégia “Dare Forward”.
"A Stellantis baseia-se nas suas origens em Itália, França e Estados Unidos para impulsionar as suas operações a nível mundial", afirmou Carlos Tavares. "Mas Mirafiori é única entre as raízes da Stellantis, pois está a tornar-se num centro de pleno direito que reúne funções centrais, desenvolvimento de tecnologias, de fabrico e de atividades de economia circular. É por isso que a sua profunda transformação, com oito novas atividades em Turim desde que criámos a Stellantis, requer muita atenção, formação e investimento para continuar a fornecer veículos, tecnologias e serviços que conquistem os corações e mentes dos nossos clientes em todo o mundo”, acrescentou.
Além da produção de automóveis para a Fiat e para a Maserati, o Mirafiori Automotive Park 2030 passa a integrar o centro de produção de caixas de velocidades eDCT para os mild hybrid com tecnologia 48 v pela joint-venture eTransmissions Assembly. Ali serão produzidas até 600.000 transmissões eDCT por ano, em paralelo com a produção em Metz, França. A eDCT produzida em Mirafiori representa uma tecnologia de hibridização acessível, incorporando um motor elétrico de 21 kW numa transmissão de dupla embraiagem. O motor fornece propulsão elétrica em situações de baixo binário, como a condução em cidade ou a velocidade de cruzeiro, permitindo que o motor de combustão interna permaneça desligado 50% do tempo no ciclo urbano.
Paralelamente ao arranque da produção da eDCT, a Stellantis revelou que será feito um investimento adicional de 100 milhões de euros para aumentar a produção do 500e, com Tavares a referir que tal permite “aumentar, ainda mais, a atratividade e a acessibilidade do Fiat 500e, visando alargar a base de clientes e ampliando, assim, a atividade de produção de Mirafiori”.
Mirafiori também faz parte do programa de transformação grEEn-campus que está em curso na Stellantis e que ajudará a reduzir o equivalente a 36.000 toneladas de emissões de CO2. O grEEn-campus é um local de troca e partilha de ideias, promovendo a criatividade e a eficiência e, em última análise, criando um ambiente de trabalho altamente atrativo.
“Alfinetada” aos políticos
Na apresentação do Milano, que decorreu em Milão, Tavares apontou que tem ouvido críticas injustas e lido muitas “notícias falsas” quanto ao desinvestimento da Stellantis do mercado italiano e deixou algumas “alfinetadas” aos políticos que tentam atrair companhias chinesas a produzir naquele país ao longo de três pontos.
“Ponto número um: sentimo-nos em casa em Itália. Ponto número dois: investimos massivamente e fazemos as coisas de forma não convencional. E, ponto número três, muito importante, aqueles que estarão a namorar com fabricantes chineses para os convidar a vir para Itália estão no mesmo caminho daqueles que venderam a Volvo à Geely e a MG a outra fabricante chinesa. E isto não vai acontecer com a Stellantis. Isto não vai acontecer com a alfa Romeo”, afiançou no final do seu discurso.
O mesmo tom surge no comunicado de abertura de mais esta unidade operacional da Stellantis em Mirafiori: “Como demonstrámos, tencionamos defender a nossa posição de liderança em Itália frente a toda a concorrência, incluindo os fabricantes chineses, independentemente do apoio de que possam beneficiar no país. Os nossos empregados italianos demonstram, todos os dias, as suas competências, o seu espírito de luta e a sua capacidade de resistência. Quero agradecer-lhes calorosa e sinceramente todo o seu apoio à Stellantis. Os acionistas podem estar certos de que continuaremos a proteger e a alimentar as nossas raízes através de novas formas, por vezes surpreendentes".
Local histórico; novas valências
O Mirafiori Automotive Park 2030 representa o próximo capítulo da história de 80 anos deste local histórico. É, atualmente, o local de produção dos modelos Abarth 500e, Fiat 500e, Maserati GranTurismo e Maserati GranCabrio, sendo que mais de 90% dos veículos aí construídos são exportados, contribuindo para a balança comercial italiana.
Em 2023, a Fiat aumentou em 12% o seu volume de vendas a nível mundial, registando um total de 1.35 milhões de unidades vendidas e confirmando-a como a marca da Stellantis líder em volume de vendas. A marca é líder de mercado em quatro países, com uma quota de 21,8% no Brasil, de 12,8% em Itália, de 15,7% na Turquia e de 78,6% na Argélia. Adicionalmente, é líder no segmento A na Europa, com uma quota de mercado de 42%, pelo que este investimento agora anunciado para o 500e visa reforçar a sua liderança, estando na calha uma opção mais acessível, integrando uma bateria e um motor elétrico totalmente novos.
A par da produção das caixas eDCT, Mirafiori terá ainda um Centro de Tecnologias de Bateria de última geração no valor de 40 milhões de euros, no qual serão concebidos e testados baterias, módulos, células de alta tensão e software que irão alimentar os próximos veículos da marca Stellantis. O centro é um dos maiores da indústria automóvel na Europa.
Outras valência incluem o hub de economia circular “SUSTAINera” (iniciativa com objetivo de encontrar modelos de fabrico e de consumo sustentáveis), a sede mundial da Stellantis Pro One para apoiar a ofensiva da empresa no setor dos veículos comerciais, a Mobilisight (dedicada ao crescimento do negócio de Dados como um Serviço e ao desenvolvimento e licenciamento de produtos, aplicações e serviços B2B inovadores), hub de Software com responsabilidade global para sistemas avançados de assistência ao condutor e para a STLA AutoDrive e sede do Design Stellantis para as marcas Abarth, Alfa Romeo, FIAT, Lancia, Maserati e modelos Jeep europeus.
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