No ano em que a Fórmula 1 comemora 75 anos, a TAG Heuer recupera a condição de 1974 a 1981 e 1992 a 2002, substituindo a Rolex como Cronometrista Oficial do Campeonato do Mundo. As histórias da história!
A utilização de sistemas de cronometragem é tão antiga como as competições de automóveis, remontando, por isso, ao final do Século XIX. Surpreendido(s)?! Se for esse caso, saiba(m) que esta solução foi experimentada até na primeira corrida de que existem registos, que aconteceu em 22 de julho de 1894, entre Paris e Rouen, França! Então, para as medições dos tempos, adotaram-se métodos rudimentares baseados na observação manual e nos relógios mecânicos.
Nos primeiros anos do Século XX, os sistemas progrediram bastante, tornando-se, sobretudo, muito mais precisos, mas a cronometragem eletrónica popularizou-se somente nas décadas de 1950 e 1960. E, assim, chegou-se à tecnologia moderna, que combinam sistemas que integram dispositivos eletrónicos (“transponders”) e sensores digitais em vez óticos com níveis incríveis de fiabilidade que (quase) não admitem erros, por proporcionarem medições de tempo rigorosíssimas, na ordem dos milissegundos.

A Fórmula 1 dispõe de sistemas de cronometragem desde o primeiro Mundial, em 1950, mas a abolição, pela Federação Internacional do Automóvel (FIA), em 1968, das restrições aos patrocínios de marcas não relacionadas com o automobilismo, sem surpresa, “abriu a porta” à negociação de acordos comerciais mais favoráveis para equipas, pilotos e promotores tanto do campeonato como das corridas, facto que marcou o início de era nos desportos motorizados. É esta mudança radical no processo de financiamento que “acelera” a globalização da categoria e promove o crescimento exponencial por detrás da dimensão mediática que explica o sucesso de negócio muito, muito lucrativo.

E os primeiros patrocínios em monolugares de Fórmula 1 surgiram, precisamente, em 1968, no Grande Prémio da África do Sul, numa escuderia privada sul-africana (Team Gunston). Pouco tempo depois, no Grande Prémio de Espanha, a Lotus, sob o comando de Colin Chapman, trocou o verde de sempre das máquinas britânicas pelo branco, dourado e vermelho das embalagens da marca de cigarros Golf Leaf. Todavia, a estreia da cronometragem no Campeonato do Mundo é muito anterior a dois estes episódios. Aconteceu na primeira corrida da categoria, a 13 de maio de 1950, em Silverstone, Inglaterra. Então, a relojoeira suíça Longines forneceu todos os cronómetros mecânicos de alta precisão operados, manualmente, pela equipa de cronometristas oficiais, o que não eliminava os erros humanos nos registos dos tempos dos treinos, das qualificações e das corridas.
A estreia da cronometragem no Campeonato do Mundo aconteceu na primeira corrida da categoria, a 13 de maio de 1950, em Silverstone, no Grande Prémio da Grã-Bretanha
A relação da Longines com a Fórmula 1 manteve-se até 1974, ano em que a Heuer, a antecessora da TAG Heuer, protagonizou a primeira passagem pelo campeonato, assinando acordo comercial que terminaria apenas em 1981. A Longines voltou ao campeonato em 1982 e, em 1992, a concorrente helvética recuperou o estatuto de Cronometrista Oficial. Durante estes dois períodos, a companhia suíça contribuiu para o progresso na competição, sobretudo com a introdução de sistemas digitais de cronometragem e telemetria.

Em 2004, a alemã Siemens, com os apoios da norte-americana AMD e da francesa ATOS, substituíram-na, combinando capacidades e competências que iniciaram a revolução digital e gráfica na competição, com impacto, também, na transmissão televisiva dos grandes prémios, mais atrativa e excitante, assim contribuindo para o aumento exponencial das audiências ou da dimensão comercial do desporto. O acordo durou apenas três temporadas. Entre 2006 e 2012, firma norte-americana, a Freescale Semiconductor, tecnológica da área dos semicondutores, assegurou à Fórmula 1 o fornecimento dos serviços de cronometragem e telemetria.
Finalmente, em 2013, entrada em cena da Rolex, marca que emprestou prestígio à competição, também por combinar por combinar o fornecimento de tecnologia de cronometragem de altíssima precisão com a promoção da marca nos circuitos e o patrocínio direto de diversos grandes prémios no mapa do Mundial. Esta relojoeira trabalhava em parceria com a FIA Timing, divisão da FIA que utiliza tecnologias da Swiss Timing, subsidiária da Swatch especializada em cronometragem desportiva e processamento de dados.
LVMH paga 1000 milhões em 10 anos
Em outubro de 2024, a empresa que detém a Fórmula 1, a Liberty Media, anunciou acordo com a LVMH, “império” comandado por Bernard Arnault que está baseado em Paris, França, e conta com mais de 70 marcas de luxo, incluindo Louis Vuitton, Möet & Chandon e TAG Heuer. A parceria de 10 anos, fala-se, “movimenta” (quase) 1000 milhões de euros (média de 100 milhões/temporada!). E, assim, já a partir do Mundial que arranca no fia 16 de março, no Albert Park de Melbourne, na Austrália, e coincide com os 75 anos do desporto, troféus dos grandes prémios em caixas ou malas Louis Vuitton, champanhe Möet & Chandon em vez de vinho espumante da Ferrari Trento nos pódios e TAG Heuer como cronometrista (também no “website”, na “app” e nas demais plataformas de comunicação do campeonato).
O regresso da TAG Heuer à Fórmula 1 coincide com os 75 anos do Campeonato do Mundo.
A relojoeiro foi criada em 1860, em Sant-Imier (Berna, Suíça), por Edouard Heuer, e a luxemburguesa Techniques d’Avant Garde (TAG) absorveu-a em 1985, o que explica a mudança no nome do fabricante. Por fim, em 1999, por 470 milhões de dólares, a LVMH comprou-a e integrou-a no portefólio muito extenso de marcas de luxo de que é proprietária. No entanto, a relação próxima da empresa helvética com a categoria de topo do desporto automóvel é muito mais antiga, estendendo-se, precisamente, pelas sete décadas de histórias da competição.

A Heuer foi a primeira marca de luxo com o logotipo apresentado na decoração de monolugar de Fórmula 1 (1969, Lotus) e, também, a primeira empresa da indústria a patrocinar uma equipa participante no Campeonato do Mundo (1971, Ferrari). E, por isso, esta companhia, no currículo desportivo, apresenta 15 títulos de pilotos e 11 de construtores, 239 vitórias e 613 pódios! Nesta categoria, não existem muitas marcas mais bem-sucedidas…
TAG Heuer e Fórmula 1 são marcas icónicas que partilham, por exemplo, a paixão pela engenharia de precisão, as tecnologias de ponta e os materiais de vanguarda.
A empresa helvética começou por destacar-se, precisamente, como fabricante de equipamentos e sistemas de cronometragem, montou o primeiro cronógrafo num “tablier” em 1911 e apresentou o primeiro cronómetro, o Mikrograph, em 1916 – a precisão era de 1/100 de segundo, facto que o tornou no modelo de referência em matéria de cronometragem de alta precisão no desporto. Na década de 1950, que coincidiu com os primeiros anos do Campeonato do Mundo, a relojoeira dedicou-se, exclusivamente, à produção de relógios cronógrafos de pulso.
Depois, durante a década de 1960, com o aumento de popularidade da Fórmula 1, a Heuer envolveu-se mais intimamente com os protagonistas da modalidade, das equipas aos pilotos. Entre os momentos-chave desta associação, a utilização por Jochen Rindt, austríaco que venceu o título de 1970 a título póstumo – morreu aos 28 anos, nos treinos para o Grande Prémio de Itália –, do Heuer Autavia (referência 2446). Antes, Jack Heuer, o diretor da empresa à época, conheceu Jo Siffert, piloto suíço que participou, diretamente, no desenvolvimento do cronógrafo automático Calibre 11. O logótipo decorou o Lotus 49B com que competiu no Mundial de 1969 (e o escudo da Heuer encontrava-se no fato de competição e o Autovia [referência 1163], com o mostrador branco “alimentado” pelo movimento novo, no pulso). Foi a primeira vez que relojoeiro ou marca de luxo patrocinou piloto ou teve o logotipo na decoração de monolugar. E esta parceria redefiniu todo o marketing desportivo, sobretudo nas corridas de automóveis.
Scuderia Ferrari e McLaren
Em 1971, a Scuderia Ferrari procurava sistema de cronometragem para circuito de testes novo em Fiorano, Itália. Escolheu a Heuer, que concebeu dispositivo de raiz, o Le Mans Centigraph. Operava-o Jean Campiche, que ajudou a escuderia italiana a conquistar os campeonatos de construtores e pilotos em 1975 – o segundo com o austríaco Niki Lauda). E este episódio de sucesso fez com que outras formações investissem na aquisição de tecnologias semelhantes, casos de BRM, McLaren ou Surtees.
A ligação da Heuer à Ferrari manteve-se até 1979. Nesse ano, a a marca começou parceria de longa duração com a McLaren. Em 1985, a empresa foi adquirida pela proprietária da escuderia britânica, aquisição que mudou o nome da companhia e fez com que o logótipo novo fosse inscrito no para-brisas do MP4/2C que ganharia o Mundial de Pilotos, em 1986, com Alain Prost – à época, até os motores Porsche foram rebatizados, passando a apresentar-se sob o nome TAG.
No mesmo ano, introdução de relógio novo e revolucionário, o TAG Heuer Formula 1. Tinha caixas, braceletes e mostradores com cores vivas, combinação na origem de sucesso comercial (quase) sem precedentes. Em 1988, Ayrton Senna juntou-se à McLaren e, em 1989, passou a usar os relógios TAG Heuer. Venceu três títulos e a relação perdurou após a morte do piloto, em Imola, Itália, em 1985, uma vez que a empresa mantém colaboração com a Fundação Senna.

Em 1992, a TAG Heuer estabeleceu parceria com a Fórmula 1, aproveitando toda a experiência técnica que tinha para melhorar cada vez mais quer a fiabilidade, quer a precisão da cronometragem no Mundial. E, além da captura e do processamento de dados, o sistema somou dimensão nova ao entretenimento dos fãs que viam as corridas através das transmissões televisivas. E a marca também esteve envolvida nos títulos da McLaren e Mika Häkkinen em 1997 e 1998.
Associação à Red Bull
A relação da TAG Heuer com a McLaren resistiu à mudança de milénio e, durante a década 2, a Fórmula passou por momentos extraordinários, como a mudança dos motores V10 para os V8. Neste período, que começou sob domínio da Ferrari e do alemão Michael Schumacher e prosseguiu com o sucesso da equipa Renault e do piloto espanhol Fernando Alonso, a escuderia britânica descobriu outro talento: o britânico Lewis Hamilton, campeão pela primeira vez em 2008, com TAG Heuer no pulso!
Em 2015, depois de 30 anos de colaboração bem-sucedidos, os caminhos de TAG Heuer e McLaren separaram-se, com a primeira, já em 2016, a decidir associar-se à Red Bull, formação austríaca que ganhou, rapidamente, posição de destaque na Fórmula 1, numa primeira fase, de 2010 a 2013, conquistando os quatro títulos de construtores e pilotos coincidentes com era Sebastian Vettel, numa segunda, com início em 2021, com o bicampeonato ganho pela equipa ou o “tetra” no Mundial de Pilotos sob o “comando” de Max Verstappen. E a relação mantém-se, em paralelo com as responsabilidades novas da marca do “império LVMH na Fórmula 1, como cronometrista oficial do campeonato que ganhou mais dimensão, sob o comando da Liberty Media.

Os números da Fórmula 1
A dimensão e a extensão do acordo com a Fórmula 1 sustenta-se com números. A categoria-rainha do desporto automóvel, atualmente, tem mais de 750 milhões de fãs em todo o mundo, somando-lhes, também, mais de 90 milhões de seguidores nas redes sociais. E esta base de adeptos é, ainda, diversificada e jovem: 42% são do sexo feminino e 33% têm menos de 35 anos! O campeonato de 2024, excitante até à bandeira de xadrez no Abu Dhabi, com McLaren e Ferrari a lutarem pelo título de construtores até ao fim (venceu a primeira, assim terminando jejum que durava desde 1998!), atraiu 1,5 mil milhões de (tele)espectadores.

Para Antoine Pin, o diretor da marca, trata-se de “passo” natural para a TAG Heuer: “O nosso nome está associado a equipas e pilotos de sucesso e este investimento acontece de forma muito natural. A Fórmula 1 representa capacidade de inovação e progresso tecnológico, estratégia e resistência física e mental. Partilhamos estes princípios e o facto de recuperarmos a condição de Cronometrista Oficial coloca-nos no centro da ação de campeonato de elite”.
A TAG Heuer tem 1900 colaboradores e está presente em 139 países.
A TAG Heuer tem 1900 colaboradores e está presente em 139 países. Os produtos da marca encontram-se disponíveis em www.tagheuer.com e em 260 boutiques e 2300 pontos de venda, incluindo em Portugal. Na coleção principal, encontram-se três famílias icónicas criadas por Jack Heuer (Carrera, Monaco e Autavia) e quatro contemporâneas (Link, Aquaracer, Formula 1 e Connected).

No desporto automóvel, a TAG Heuer não está apenas na Fórmula 1. Desde 2019, a marca é a patrocinadora principal da equipa da Porsche no Mundial de Fórmula E, que conta com piloto português desde a Época 9 (2022-23). E, esta temporada, cumpridos os primeiros dois ePrix, em São Paulo e na Cidade do México, corridas que acabou na segunda posição, António Félix da Costa no comando do Mundial.
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