Jaguar: Trump não pára “Reimagine”
- José Caetano
- há 2 dias
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As críticas de Donald Trump e do ex-braço direito Elon Musk não tiveram impactos no plano de ação da Jaguar, garante o próximo diretor da JLR, o indiano PB Bajali. A marca inglesa continua muito comprometida com o programa Reimagine, que tem o “Copy Nothing” como mantra criativo disruptivo. Em Portugal, nos primeiros seis meses do ano, apenas 14 automóveis matriculados…
A Jaguar, entre janeiro e junho, matriculou 14 automóveis no nosso País, de acordo com a Associação Automóvel de Portugal (ACAP), menos 80,6% do que no período homólogo de 2024. Na Europa, ainda no frente a frente com janeiro-junho do ano passado, a “travagem” nas vendas também superou os 80% (para sermos rigorosos, foi de 80,4%), com 2813 carros, devido à paragem na produção de quase todos os modelos com mecânicas de combustão interna, de forma a preparar a marca inglesa para propor só motores elétricos (o F-Pace foi a exceção à regra).
Esta geração nova de automóveis, todos elétricos, foi antecipada em novembro de 2024 com a apresentação do Type 00 Concept e a campanha “Copy Nothing” para promoção do plano Reimagine, que originaram reações muito contraditórias, com milhares de adeptos do fabricante propriedade no consórcio JLR a somarem-se ao coro de críticos, devido à utilização de cores berrantes e modelos com visuais que associamos ao movimento "woke", por promoverem a diversidade e as expressões culturais afro-americanas, e à não utilização de automóveis na estratégia de comunicação, por isso ignorando o conservadorismo próprio de marca com história e tradição baseada em valores clássicos. Mérito número um da ação: o aumento quase instantâneo da notoriedade mediática da Jaguar.

Esta rutura com o passado imposta pela direção da marca britânica como fórmula para mudança bem-sucedida de paradigma no automóvel, do motor térmico para o elétrico, que tem como objetivo seduzir clientes mais jovens do que os habituais, pressupunha, assumidamente, redução muito significativa na produção e nas vendas, e os protestos à decisão da equipa de chefia comandada por Adrian Mardell, diretor do consórcio, e Rawdon Glover, número um da Jaguar, esperavam-se. No entanto, ninguém antecipou a dimensão nem os impactos das críticas. Até o presidente dos EUA, Donald Trump, decidiu somar-se ao coro de protestos, com o ex-aliado Elon Musk, ao classificar a campanha de “desgraça enorme”.

Braço de ferro EUA-Índia
Trump, atualmente, mantém “braço de ferro” com o primeiro-ministro indiano Shri Narendra Modi, depois da "promessa" de agravamento das taxas aduaneiras de 25% para 50%, se o governo de Nova Deli mantiver a boa relação comercial e política com a Rússia, e continuar a comprar gás e petróleo ao Kremlin. Os EUA, em 2023 e 2024, representaram cerca de 18% das exportações da Índia. E a JLR criada em 2013, após as compras da Land Rover e da Jaguar à norte-americana Ford, negócios concretizados em 2008, é propriedade de consórcio indiano (Tata Motors) com responsáveis “à prova” de quaisquer comentários e pressões do “inquilino” da Casa Branca.
Prova-o, por exemplo, o que disse PB Pajali, o homem designado para comandar a JLR a partir de novembro, depois do pedido de renúncia ao cargo apresentado pelo diretor do fabricante britânico Adrian Mardell, que registou 10 trimestres consecutivos de lucros e, assim, quase acabou com a dívida crónica que encontrou na empresa. Os comentários negativos aos planos para a Jaguar, aparentemente, convenceram-no a “sair de cena” e a reformar-se no final de 2025, depois de 35 anos de carreira bem-sucedida na companhia. Mas, afinal, o que disse Pajali? Simples: “O plano para a Jaguar mantém-se!”.

Três automóveis elétricos, 50.000 vendas/ano
A Jaguar nova, recordamo-lo, não pretende agradar a todos e ambiciona vender só 50.000 automóveis por ano, número abaixo do que conseguiu no período 2023-24. Este plano pressupõe base nova, a JEA (acrónimo de Jaguar Electric Architecture), GT com 4 portas, 4 lugares e dois motores elétricos (potência mínima de 575 cv) e até 770 km de autonomia, e tecnologia de recarregamento rápida da bateria capaz de recuperar energia para mais 321 km em 15 minutos!
O GT adversário do Porsche Taycan tinha apresentação programada para o final do ano, mas o plano está atrasado, o que também deve obrigar aos adiamentos tanto do Sport Utility Vehicle (SUV) concorrente de Bentley Bentayga como da berlina de luxo pensada para competir com o Bentley Flying Spur!

Balaji, que ainda tem a direção financeira da Tata Motors, independentemente das acusações de “wokismo” – para contextualização, este termo pode designar, geralmente de forma crítica, os posicionamentos culturais e políticos que valorizam as causas identitárias e sociais –, mantém tudo o que está programado para a Jaguar, nomeadamente o abandono do logotipo icónico da marca que celebra 90 anos em setembro, trocando-o por emblema novo, que é muito minimalista. “Desenvolvemos os automóveis, que estão quase prontos para apresentarmos e os nossos clientes adoraram o que viram! A estratégia mantém-se, ponto”, concluiu.