Mitsubishi ASX 1.0 MPI-T Bi-Fuel Kaiteki
- Pedro Junceiro
- 20 de mai.
- 5 min de leitura
Partilhando o conceito com o “primo” Renault Captur, o Mitsubishi ASX recebe tecnologia bi-fuel que lhe permite oferecer autonomia em torno dos 1.000 km e prestações ajustadas para um SUV compacto: uma receita que oferece dividendos à marca japonesa.

Não é segredo que a Mitsubishi tem vindo a partilhar alguns modelos com a Renault, conseguindo dessa forma melhorar a sua posição e a sua oferta de modelos nalguns mercados europeus. Ao abrigo dessa aliança estratégica, a marca japonesa conta com dois modelos “adotados”, os ASX e Colt, nos quais também disponibiliza as tecnologias que os “primos” Captur e Clio, sobretudo nas motorizações.
Assim, para este modelo que partilha quase tudo com o Renault Capur, o destaque está na tecnologia bi-fuel, já que permite funcionamento a gasolina e a GPL (gás de petróleo liquefeito). E escreve-se “quase tudo”, porque o ASX ganhou imagem mais diferenciada em linha com os códigos linguísticos da Mitsubishi ao abrigo de uma atualização recente da gama.

As principais alterações incidiram na dianteira, incorporando agora o conceito “Dynamic Shield” de forma mais vincada e contundente. Ou seja, visto de frente, já não se confunde com o congénere da Renault, o que é uma boa notícia. O mesmo já não se passa na traseira, na qual o “design” é largamente idêntico, com exceção para a inscrição da marca no centro da tampa da bagageira, junto à câmara traseira central protuberante que também é elemento distintivo (não propriamente elegante…). O ASX, nesta versão Kaiteki, conta com jantes de 17 polegadas.
Se o exterior tem grandes semelhanças com o Captur, o interior é ainda mais próximo, beneficiando também das atualizações recentes aplicadas quer a esse, quer ao próprio ASX. Em ambiente bem construído e de elevado rigor de apresentação – apesar dos muitos plásticos, usuais neste segmento –, sobressaem os ecrãs melhorados. O de instrumentos apresenta agora 7 polegadas, ainda que parametrização limitada nas informações, ao passo que o central dispõe agora de 10,4 polegadas, na vertical, com uma faixa de teclas para ajuste da climatização na parte inferior.

O sistema de infoentretenimento foi melhorado, sendo de fácil leitura e com processador renovado para maior rapidez de funcionamento. A conectividade com Apple CarPlay e Android Auto sem fios é possível, bem como a integração de uma conta associada à Mitsubishi, embora na versão ensaiada não fosse muito elaborado. Este é um acessório que acrescenta visual mais moderno ao habitáculo, permanecendo altamente funcional, com muitos locais de arrumação e bons índices de conforto.
Por um lado, os bancos com revestimentos em tecido preto e cinzento e pespontos em azul oferecem excelente apoio, enquanto nos lugares traseiros há também espaço adequado para dois adultos, até mesmo de maior estatura. Não falta a funcionalidade de deslizamento longitudinal do banco traseiro (em 16 cm), permitindo ganhar algum espaço na bagageira, que permanece um dos pontos fortes deste modelo – seja Renault, seja Mitsubishi –, com 396 litros de capacidade.

GPL é mais-valia
O sistema bi-fuel é igual ao da Renault, o que quer dizer que o ASX conta com motor 1.0 turbo de três cilindros a gasolina com 90 cv, valor que se eleva para os 100 cv quando alimentado a GPL. O binário fica-se pelos 170 Nm, num conjunto que está ainda associado a caixa manual de seis velocidades.
Sem ambições a velocista, este é um SUV compacto com desempenho muito aceitável para ritmos urbanos e sem grandes cargas a bordo, valendo-se de escalonamento curto das primeiras relações de caixa para assim mostrar mais empenho nas subidas de rotação, podendo revelar-se um pouco mais limitado em tiradas fora de trajetos urbanos. Ainda assim, não desaponta na facilidade de utilização diária, merecendo nota positiva pela entrega agradável da potência, sobretudo na faixa de rotações entre as 1.700 e as 3.000 rpm, que é onde este ASX “vive” melhor.
Mas, o maior “truque” deste modelo está na sua filosofia de combustível duplo. Cotando-se como uma forma alternativa de híbrido, o ASX combina dois depósitos: o de gasolina, com 48 litros, e o de GPL, com capacidade para 22,6 kg. Todo o processo de desenvolvimento do modelo teve em conta a solução bi-fuel, garantindo-lhe dessa forma toda a funcionalidade de um modelo exclusivamente a gasolina ou Diesel.
Autonomia a rondar os 1.000 km
Mas é o depósito de GPL que se revela uma mais-valia no campo da autonomia – que pode rondar os 1.000 km – e nos custos de utilização, que são bem mais baixos quando alimentado apenas com o GPL, que tem custo mais baixo nos postos.
O funcionamento do motor não regista diferenças notórias no desempenho ou na sonoridade, enquanto o condutor pode também gerir com que combustível quer viajar graças a um botão comutador mais à esquerda do volante. O processo de comutação pode ser feito em andamento. Além disso, numa clara melhoria da integração do sistema, a autonomia de cada depósito e o consumo de cada combustível são apresentados no painel de instrumentos, deixando assim de obrigar a contas de cabeça para concluir quanto resta no depósito de GPL.

Já usual noutros modelos com o mesmo género de sistema, o consumo de GPL é superior ao de gasolina. Em dois trajetos idênticos de 100 km cada um, obtiveram-se valores de 9,0 l/100 km e de 6,4 l/100 km, respetivamente, o que proporciona uma boa economia combinada.
De resto, o ASX pauta-se pelo seu comportamento muito seguro e orientado para o conforto, valendo-se de amortecimento brando, mas sem que isso lhe retire um controlo interessante dos movimentos da carroçaria. A filtragem do mau piso é um ponto positivo, bem como a direção, que não sendo precisa, permite ao condutor “ler” bem o asfalto. Acima de tudo, é um modelo fácil de conduzir e de manobrar num espectro muito elevado de utilização, o que quer dizer que o ASX preenche os requisitos de muitos dos condutores-alvo deste tipo de veículos.
Contas-poupança
A versão Kaiteki associada a esta motorização bi-fuel está relativamente bem equipada, como os já citados ecrãs digitais, câmara e sensores traseiros, jantes de liga leve de 17 polegadas e a lista de equipamento de segurança bem recheada, para um valor de 24.207€ sem pintura metalizada (450€), que é o único opcional incluído na versão ensaiada (sem despesas de preparação e de transporte).
Mas é ao fazer-se as contas dos gastos que o ASX nesta configuração bi-fuel apresenta maiores vantagens para um condutor que faça muitos quilómetros anualmente, uma vez que o GPL tem valor bem mais em conta face à gasolina, fazendo com que as despesas sejam baixas, mesmo com um consumo mais elevado. Além disso, noutra nota, o GPL é um combustível mais sustentável.
Ou seja, por cerca de 25.000€ (ou menos, se não se escolher a pintura metalizada), um condutor pode ter autonomia em torno dos 1.000 km com um custo relativamente baixo, num atributo que tem pouquíssimas alternativas no mercado, com exceção, efetivamente, de outros modelos da própria “família” Renault. Junte-se a isto o conforto geral, a construção bem conseguida e o desempenho justo do ASX, sem rasgos desportivos, mas cumpridor, para se considerar que a Mitsubishi volta a beneficiar do trabalho feito pela Renault.

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