O Autódromo Internacional do Algarve (AIA) é um dos circuitos mais desafiantes da Europa e, também, um palco perfeito para melhorarmos as nossas competências de condução. Recentemente, a Mercedes-AMG proporciono-nos uma experiência (quase) sem limites nalguns dos automóveis mais extremos da gama, como o excitante GT 63 4MATIC+ Coupé.
No programa delineado pela Mercedes para testar alguns dos seus modelos desportivos mais apurados no Autódromo Internacional do Algarve (AIA), o “prato forte” eram as três voltas a fundo com o AMG GT Coupé de nova geração no final do dia. Uma “iguaria” que serviria de encerramento a um dia em que os jornalistas puderam experimentar emoções fortes no circuito de Portimão.
Mas até chegar a esse momento, a marca alemã proporcionou aos presentes uma série de exercícios práticos que visavam melhorar as reações e a leitura dinâmica de diferentes automóveis em diferentes cenários, tirando partido das competências da AIA Racing School, uma escola de condução dedicada aos amantes da condução desportiva e que, além dos automóveis mais especiais, conta ainda com elementos em torno do “paddock” que permitem simular, por exemplo, piso molhado.
Integrados nessa escola de condução tão particular estão vários modelos da Mercedes-AMG, com a companhia alemã a ter uma ligação muito forte à AIA Racing School, tendo sido uma das forças de suporte para o seu arranque e manutenção ao longo dos anos. Antes de nos fazermos à pista, porém, há tempo para um “briefing” essencial, explicando os pontos do programa a cumprir e as características das máquinas que temos para guiar.
O primeiro modelo a experimentar, antes da hora de almoço, é o CLA 45 S 4MATIC+ Coupé, modelo que já não é novo, mas que continua a ter uma competência impressionante em pista, com os seus 421 cv extraídos a partir de motor 2.0 de quatro cilindros. Embora o traçado de Portimão não fosse uma incógnita, a volta de “aclimatização” feita no lado do passageiro com o instrutor Sérgio Santos ao volante demonstrou que continua a ser sempre uma obra com curvas de “suster a respiração”, sobretudo quando o condutor já domina os segredos do circuito e do carro em questão.
No momento de assumir o volante fica desfeita uma dúvida existencial – é preciso reaprender o circuito! E as dicas do instrutor são fundamentais para tentar obter trajetórias corretas, mas há uma diferença entre o que ele diz e o que o instruendo está a fazer – uma circunstância que decorre, em grande parte, do próprio circuito. Numa das zonas encadeadas do “miolo”, em curva cega, sabendo que é para direita, o instrutor diz para irmos pela direita quase reto para tomar o “ponto de corda” mais à frente, mas o instinto era colocar o AMG mais à esquerda. No final deste primeiro contacto, fica recordado o traçado (dentro do possível).
Exercícios de agilidade
Enquanto o circuito é, depois, tomado pelas motos para um “trackday”, cumprimos depois uma série de exercícios que visam melhorar as reações e o controlo dos automóveis em situações bastante diferentes, com condições de motricidade muito limitadas. Para um dos exercícios, recorre-se à nova “parede de água”, um exercício no qual temos de ter reações rápidas perante jatos de água que surgem do chão e dos quais temos de fugir, mantendo o controlo de um AMG C 43 sob um piso propositadamente escorregadio e com velocidade constante.
Relativamente simples, o exercício é feito com e sem assistentes eletrónicos ligados para perceber a diferença nas reações, mas o mesmo não acontece no exercício seguinte, realizado com os assistentes desligados e com um AMG GT Coupé de geração anterior.
A ideia é andar de lado, ou melhor, controlar drifts sobre piso molhado naquilo que é chamado de “bolacha”, um círculo em cimento polido que, molhado, torna-se mais complicado. Apesar das diversas tentativas, a falta de coordenação entre acelerador e direção com o piso cada vez mais molhado pelo jato de água… foi como “chover no molhado”.
O exercício seguinte desenrolou-se entre cones de sinalização ao volante de um A 45 S 4MATIC+ (também com 421 cv), num mini-traçado bastante exíguo no qual as trajetórias, suavidade no volante e doseamento do acelerador eram fundamentais.
“Prato principal”
Para encerrar o programa, três voltas ao AIA com o novo AMG GT 63 4MATIC+ Coupé, modelo mais recente da Mercedes-AMG que recorre a motor V8 biturbo de 595 cv de potência, 800 Nm de binário, tração integral variável, programas de condução diferenciados (incluindo um mais exclusivo “Track” que deixa rédea mais solta) e suspensão e aerodinâmica adaptativos. Uma máquina de emoções fortes que promete muita adrenalina, mas que, em circuito, exige também maior destreza e boa leitura do seu comportamento. Os erros pagam-se caro.
Mas não é o momento de pensar nisso e passo logo para o lugar do condutor. O instrutor Sérgio Santos volta a ser o meu guia e, desta feita, sigo os seus conselhos de forma escrupulosa. O AMG GT 63 é mais ágil e consegue “atacar” melhor as curvas, seguindo trajetórias ordeiras de acordo com o que pedimos pelo volante. O pedal do acelerador é sensível e este coupé 2+2 impressiona pela forma como coloca a potência no asfalto e nos impele para a frente, mas não só por isso.
Também sobressai pela competência de travagem com os seus discos de travão em carbocerâmica, que permitem “cortar” velocidade com intensidade formidável e sem acusar desgaste. Talvez o ponto mais excitante seja sempre a travagem para a primeira curva, feita em descida e com o peso do veículo a transferir-se duplamente para a frente (pela inércia do movimento e pelo relevo do circuito) e é aí que percebemos como os travões são exímios.
A secção traseira baloiça ligeiramente em travagem, mas “tocamos” no ponto de corda da primeira curva e abre-se a “caixa de Pandora”. A confiança está lá e esta máquina de emoções oferece um comportamento altamente recompensador, demonstrando também, aqui e ali, um carácter mais perdulário do que na geração precedente, o que não deixa de ser um feito elogiável para a divisão de Affalterbach. A passagem na reta da meta faz-se a velocidades acima dos 250 km/h e o essencial para uma volta bem-sucedida é a suavidade do volante – nada de reações abruptas, nem de guinadas súbitas que descompensem o equilíbrio (bastante bom, diga-se) do AMG GT 63.
No final de três voltas, com o AMG GT 63 4MATIC+ Coupé amarelo parado na via das boxes, damo-nos conta da evolução que modelos como este Mercedes evidenciaram ao longo dos anos, tornando-se mais “amigos” de conduzir em condições mais exigentes, mas também como o incremento da tecnologia permite variar o carácter dos desportivos de forma mais vincada. Isso é refletido também no preço, que no caso deste modelo é de 258.600€. No final deste “curso” percebemos que há escolas que nunca nos cansam.
A “herança” de Paulo Pinheiro
Incontornável, o circuito de Portimão fica como uma “herança” inabalável da persistência e gosto pelo automobilismo de Paulo Pinheiro, grande visionário deste projeto que colocou o Algarve no “mapa” do desporto automóvel mundial e cuja morte, a 10 de julho, apanhou todos de surpresa, sobretudo, os elementos relacionados com o AIA.
Desde 2008, ano de conclusão do projeto erigido na Mexilhoeira Grande, este traçado já recebeu provas de Fórmula 1, MotoGP e de Endurance, entre muitas outras, tendo uma taxa de ocupação anual muitíssimo alta, entre testes privados, “trackdays” e fins de semana de competição, conforme nos explicou Edgar Gonçalves, piloto profissional e também instrutor do AIA Racing School.
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