O regresso da designação Colt tem por base o “primo” Renault Clio, pelo que as semelhanças com o modelo francês são mais do que muitas. No entanto, o Colt tem um trunfo que é só seu – o motor 1.0 atmosférico que lhe confere maior economia. Será que convence?
Na gama europeia atual da Mitsubishi, dois modelos têm conotações óbvias com a Renault – o ASX e o Colt, tratando-se efetivamente de versões adaptadas de Captur e Clio, respetivamente. Esta solução permitiu à marca japonesa oferecer automóveis mais ao estilo dos clientes europeus, graças às sinergias dentro da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi que se formou no início da década de 2020.
Os resultados comerciais parecem confirmar o sucesso desta operação. De acordo com os dados da Associação Europeia de Construtores Automóveis (ACEA), as vendas da marca dos “três diamantes” entre janeiro e março de 2024 subiram 160,3% em comparação com igual período do ano passado (21.486 unidades matriculadas este ano contra 8.255 no ano passado). Enquanto não chegam novos produtos desenhados pela companhia, esta fórmula mostra-se proveitosa.
Números à parte, o Colt é o regresso de uma designação famosa, mas que aqui apenas adorna uma reinterpretação simples do Clio. Praticamente todos os componentes transitam de um modelo para o outro, com exceção de detalhes como os logótipos e a grelha dianteira que, neste caso, adota um estilo em consonância com a filosofia “Dynamic Shield”. Atrás, o nome “Mitsubishi” estende-se ao longo do centro do portão da bagageira, no qual se pode encontrar ainda uma saliência para a câmara traseira.
De resto, tudo idêntico. O que não é de menosprezar, porque as linhas do modelo de base são bastante modernas e agradáveis, sobretudo após a atualização de meio de ciclo a que foi submetido na segunda metade do ano passado.
Interior acolhedor e conhecido
A bordo, o Colt dá continuidade à lista de semelhanças com o seu “primo” francês, o que resulta num interior muito bem construído e com boa solidez geral, pautando-se pelos materiais muito interessantes para este segmento, sobretudo no tablier. Sem deslumbrar, o Colt sobressai pela agradabilidade geral, tanto na ergonomia, como na forma como alberga os seus passageiros.
Todos os comandos são decalcados do Clio, assim como o painel de instrumentos digital de 7 polegadas e o ecrã tátil central de igual medida, que alberga um sistema multimédia que… também não esconde surpresas. Como mais-valias, permite ligação sem fios aos smartphones via Android Auto e Apple CarPlay.
A posição de condução é bastante boa e o condutor desfruta de excelente visibilidade geral, com boa regulação do banco. Já o espaço atrás é correto para dois adultos, desde que não sejam muito altos, naquela que é uma boa solução para famílias mais jovens. A bagageira, com 340 litros, está na média do segmento, mas cumpre com os seus objetivos de pequenas viagens de férias.
Motor que é só seu
A maior diferença face ao Clio prende-se, precisamente, com um componente que não se vê: o motor. Esta versão tem por base um bloco 1.0 MPI atmosférico a gasolina de três cilindros, com 65 cv de potência e 95 Nm de binário, o qual não se encontra na gama da Renault. Direcionada a um cliente mais poupado e com ambições de prestações menos entusiásticas, esta versão 1.0 MPI não deixa de ser uma boa solução para quem privilegia, acima de tudo, os trajetos mais urbanos ou com poucas dificuldades no relevo natural das estradas.
As boas respostas em circuito urbano são um ponto a seu favor, ajudadas por um escalonamento de caixa (manual de cinco velocidades) em que as três primeiras relações são mais curtas. Já o manuseamento da caixa é um pouco vago, mas também não é ponto crítico.
É fora do âmbito de utilização urbano que se tornam evidentes maiores limitações, sobretudo quando são precisas retomas rápidas para uma ultrapassagem ou entrada em autoestrada. Aqui, é quase imperioso recorrer à caixa para baixar uma ou duas relações para conseguir um desempenho veloz, mas com os seus 95 Nm não se podem esperar grandes surpresas neste campo.
O que importa reter é que, atendendo a estes valores modestos de potência, o Colt 1.0 MPI revela um desempenho bastante aceitável para um tipo de condutor que terá maiores preocupações com viagens tranquilas e despreocupadas, predominantemente em áreas urbanas. Até porque exibe um trunfo que ainda não foi referido, que é o dos consumos muito interessantes. Sem grandes preocupações de andamento, ao cabo do trajeto de 100 quilómetros com passagens por autoestrada, nacionais e cidade, a média obtida foi de 5,4 l/100 km, o que merece nota francamente positiva (pouco acima dos 5,2 l/100 km anunciados pela marca).
Também o desempenho dinâmico é muito convincente, com níveis de conforto muito bons que não traem a agilidade geral de um modelo que tem no controlo dos movimentos da carroçaria um ponto forte. É certo que ninguém irá procurar esta versão do Colt pela sua agilidade dinâmica, mas dá muito boa conta de si, qualquer que seja o cenário – tanto no empedrado de uma via urbana, como numa via mais sinuosa.
Preço em conta
A marca japonesa propõe esta variante Kyoto por 18.490€ (sem despesas), a que acresce apenas a pintura metalizada (450€), mas que inclui na lista de equipamento de série itens como a iluminação LED, as jantes de 15 polegadas em aço (com embelezadores), volante em pele sintética, ar condicionado automático, cruise control, sistema de arranque sem chave, carregador sem fios para smartphone, painel de instrumentos digital e ecrã tátil de 7 polegadas, câmara traseira e sensores de chuva e de luminosidade, entre outros.
O que torna este conjunto mais apelativo é o seu preço contido em associação a uma lista de equipamento que é suficientemente extensa para ir ao encontro das principais necessidades dos condutores
Atendendo a tudo o que oferece, o Colt com motor de 65 cv não surpreende pela sua mecânica honesta nas prestações, mas tem outros trunfos gerais para singrar no concorrido segmento B (dos utilitários): a boa ergonomia, os consumos muito comedidos, o equipamento apreciável e uma condução que é muito agradável ao cumprir as exigências de uma ampla faixa de condutores.
FICHA TÉCNICA
Mitsubishi Colt 1.0 MPI Kyoto
Motor: Gasolina, 999 cc, 3 cilindros em linha, injeção multiponto
Potência: 65 cv/6.250 rpm
Binário: 95 Nm/3.600 rpm
Transmissão: Tração dianteira, caixa manual de 5 vel.
Aceleração 0-100 km/h: 17,1 s
Velocidade máxima: 160 km/h
Consumo de combustível (WLTP): 5,2 l/100 km
Emissões de CO2 (WLTP): 118 g/km
Dimensões (Comprimento/Largura/Altura): 4,053/1,798/1,439 m
Distância entre eixos: 2,583 m
Pneus: 185/55 R15
Peso: 1.124 kg
Bagageira: 340 litros
Preço: 18.490€
Unidade ensaiada: 18.940€ (sem despesas)
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