Porsche Macan Turbo
- José Caetano
- há 6 dias
- 5 min de leitura
A Porsche tem geração nova do Macan. No topo da gama, versão Turbo com 639 cv. Se ficássemos por aqui, poderia tratar-se tão-somente de outro automóvel do fabricante alemão. Só que este carro não é igual aos demais: na Europa, agora, existe apenas com motores elétricos! E o que vale este Sport Utility Vehicle (SUV)? Neste teste, a(s) resposta(s.).

A Porsche não muda de estratégia no que respeita à eletrificação do automóvel, independentemente das dificuldades com que estão confrontados todos os fabricantes. A procura da tecnologia abrandou, sobretudo no mercado doméstico, o alemão, e a concorrência, principalmente a chinesa, não pára de aumentar. No entanto, ambicionando-se rentabilidade, abrandamento (prudente!) no ritmo de programa que pressupunha que os elétricos representassem 80% das vendas em 2030. Na prática, no caso deste fabricante, motores de combustão interna mais tempo em ação do que o planeado, mas sem que isso signifique “marcha-atrás”, muito menos renúncia, ao compromisso para com a inovação e a sustentabilidade.
A introdução do Macan, para a Porsche, representou passo muito importante na caminhada para a eletrificação da gama, que acontecerá primeiro na Europa do que nos outros continentes. No entanto, os resultados conhecidos, no mínimo, são preocupantes e exigem estudo, ponderação e reação. Em 2023, a marca comemorou o recorde de 320.221 automóveis vendidos, com 86.724 Macan no “pacote” (mais bem-sucedido, apenas o Cayenne, com 95.604 unidades). Em 2024, em contrapartida, registou abrandamento de 3% na procura, que diminuiu para 310.718 carros, incluindo 82.795 Macan (Cayenne: 102.899). O resultado, no caso do Sport Utility Vehicle (SUV) mais pequeno, explica-se, precisamente, com o abandono, no mercado europeu, das versões com motores de combustão interna e a introdução das elétricas (comercializaram-se “apenas” 18.278).
Nenhuma dúvida: a Porsche assume riscos com este Macan novo, uma vez que o sucesso do SUV não está garantido, mas “quem não arrisca”!…

Automóvel muito completo
O contexto é a que é, desfavorável, mas o Macan novo, proposto só com motores elétricos, apresenta-se com credenciais suficientes para se posicionar no topo da categoria em que concorre, independentemente da versão (existem quatro: Macan com 360 cv e tração apenas às rodas traseiras, e Macan 4 com 408 cv, Macan 4S com 517 cv e Macan Turbo com 369 cv, todos com quatro rodas motrizes), tanto mais que passagem dos motores térmicos para os elétricos não “beliscou”, minimamente, o conforto acima da média, o dinamismo desportivo, as “performances” formidáveis e a habitabilidade acima da média que sempre caracterizaram este SUV.
Na verdade, considerando tudo o que lemos, ouvimos e vemos, deu-se até um enorme passo em frente em todos estes capítulos. Mas, adiante…
O Macan Turbo em exame nesta edição de E-AUTO apresenta-se equipado com bateria que tem 100 kWh de capacidade nominal, o que permite à Porsche reivindicar, de acordo com o processo de homologação europeu WLTP, até 547 km de autonomia, considerando o consumo médio “registado” de 19,9 kWh/100 km. Conduzindo em ambientes urbanos, os números melhoram, com o consumo a diminuir para 14,6 a 15,9 kWh/100 km e a autonomia a aumentar para até 712 km.
O Macan baseia-se na Premium Platform Electric, estrutura desenvolvida com a Audi (encontramo-la, por exemplo, no Q6 e-tron) que tem arquitetura elétrica de 800 V, o que beneficia quer as potências, quer as velocidades de carregamento. E, assim, tendo-se acesso a um posto rápido com 270 kW, 21 minutos de ligação à corrente permitem aumentar a carga armazenada no acumulador de energia de 10% para 80%, ao passo que, numa Wallbox ou num posto público trifásicos a 11 kW, a operação 0%-100% demora cerca de 10h00.
A condução do Macan Turbo impressiona-nos desde o arranque, dispensando-se a banda sonora sintetizada (Porsche Electric Sport Sound, opcional proposto por 467 €) que substitui a sonoridade do escape das mecânicas a gasolina. Dispensa-se, uma vez que é demasiado artificial. Por norma, as cópias nunca são melhores do que os originais e, neste caso, a regra não admite exceção! Na versão de topo, de série, suspensão com molas pneumáticas e amortecimento controlado eletronicamente, recurso que torna o SUV muito suave, mesmo conduzindo-se sobre pisos degradados ou muito ondulantes. Movimentando-nos sobre superfície melhor e aumentando o ritmo, percebemos, rapidamente, que a aderência quase não tem limites, tão grande é a facilidade com que este automóvel “devora” curva após curva, fazendo-o sempre com uma agilidade e uma precisão que disfarçam muitíssimo bem o peso muito próximo das 2,5 toneladas.

Obviamente, o Porsche Torque Vectoring Plus, nome pomposo do diferencial traseiro eletrónico (e inteligente) que também integra o equipamento de série do Macan Turbo, contribui de forma ativa para este desempenho dinâmico entusiasmante, por permitir que os 639 cv e os 1130 Nm “libertados” pelos motores elétricos dianteiro e traseiro sejam transmitidos de forma efetiva ao asfalto. E o eixo traseiro direcional (1918 €) também contribui para a manobrabilidade exímia de SUV que é tão rápido – 0-100 km/h em 3,3 segundos, 0-160 km/h em 7,4 segundos, 0-200 km/h em 11,7 segundos, 80-120 km/h em 2 segundos –, que a impressão que temos é a de estarmos ao volante de um Gran Turismo, não de um automóvel familiar! Estes números pressupõem, necessariamente, a ativação do “overboost” e do controlo de arranque (Launch Control). O Pacote Sport Chrono (1881 €) soma modo de condução adicional (Sport Plus), com configurações orientadas para o desempenho do chassis, controlo de estabilidade com programa mais permissivo (Sport Mode), e sistema de otimização da aerodinâmica ativa e de controlo da temperatura da bateria.

Desportivo da “cabeça aos pés”
O Porsche Macan novo, também no que respeito à vertente prática, consegue surpreender-nos positivamente. A mala tem 540 litros, capacidade que aumenta para 1288 litros com o rebatimento (simples) dos encostos dos bancos traseiros. Complementarmente, à frente, sob o “capo”, encontra-se outro compartimento, que tem 84 litros (a inexistência de motor de combustão na dianteira permitiu a criação de “frunk” que permite, por exemplo, arrumar os cabos para alimentação da bateria). A distância entre eixos aumentou 86 mm, na comparação com o SUV que este automóvel substituiu na Europa, o que beneficiou, ainda, a habitabilidade.
A bateria do Macan encontra-se posicionada sob o piso do habitáculo, e os motores elétricos dianteiro e traseiro apresentam-se arrumados na zona inferior do chassis. E, assim, o centro de gravidade do SUV novo Porsche é muito mais baixo que o do seu antecessor, apesar de a massa total ter aumentado cerca de 400 kg. E isto, obviamente, também contribuiu de forma ativa (e decisiva) para o desempenho dinâmico de automóvel com condução precisa, rápida e segura. E, neste ponto, elogiem-se, ainda, a direção direta e rápida, e os travões potentes e resistentes à fadiga

Visualmente, o Macan, na mudança dos motores térmicos para os elétricos, não perdeu a essência do antecessor, mas o automóvel novo tem dimensões maiores e imagem (muito) mais audaz, com as luzes diurnas quadradas a alinhá-lo com o Taycan, o outro automóvel da Porsche sem mecânicas de combustão (34.801 vendidos em 2023 e apenas 20.836 em 2004, uma diminuição de 49% explicada pela introdução de novidades tanto no modelo como na gama). Os faróis dianteiros (LED) encontram-se num módulo autónomo integrado no para-choques dianteiro.
O Macan também estreia janelas sem molduras, entre outros componentes e elementos de estilo diferenciadores que beneficiam a imagem e, principalmente, o coeficiente de resistência aerodinâmica do automóvel, que foi reduzido de 0,35 para 0,25, o que permitiu otimizar a eficiência do SUV, diminuindo o consumo para aumentar a autonomia.
Finalmente, o Macan é Porsche “da cabeça aos pés”, o que significa materiais e montagem (quase) irrepreensíveis e lista de opcionais dispendiosa e extensíssima (na unidade ensaiada, 30.042 € em extras). No entanto, copo meio cheio, copo meio vazio: mais equipamentos, maior potencial de personalização do automóvel.

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