Toyota Land Cruiser 250

Enfim, início de comercialização na Europa da mais recente geração de um dos mais emblemáticos todo-o-terreno de sempre. O preço em Portugal é para muito poucos (desde 154.950 €), ainda assim, mais do que aqueles que, por via das novas normas de proteção ambiental, conseguirão adquirir este novo Toyota Land Cruiser 250 com motor turbodiesel de 4 cilindros, 2,8 litros e 204 cv. E-AUTO testou-o de forma muito exaustiva em Marrocos e é bom saber que ainda existem automóveis assim!

É o modelo do maior construtor do mundo há mais tempo em comercialização: 72 anos. Soma 10,4 milhões de unidades vendidas desde 1952, em 170 países e regiões (incluído as produzidas em Portugal, da versão destinada à Africa do Sul). Mais do que um automóvel, o Toyota Land Cruiser é uma referência da indústria, muito em especial para os que querem ter a garantia de chegar a qualquer lugar, sejam quais for as condições que tenham de enfrentar.

Um mito que começou a tomar forma em 1950, com o protótipo BJ, desenvolvido para uso militar; e teve a primeira aplicação comercial pouco depois, com o emblemático Toyota B. A designação Land Cruiser foi estreada em 1954, com a segunda geração do modelo, e perdurou até hoje, com inúmeras gerações, e quase incontáveis declinações – inaugurando-se, agora, um novo capítulo nesta já longa história, com o início de comercialização do Land Cruiser 250, que E-AUTO já teve oportunidade de conduzir em Marrocos, nas montanhas do Altas.

Por grande que fosse a tentação de dedicar, aqui, todas as palavras à experiência de condução, há (muito) mais que importa saber sobre o novo Land Cruiser. E, assim, nada como ir, antes do mais, aos factos. O primeiro, o conceito que esteve subjacente ao seu desenvolvimento: “regresso às origens”, ou seja, criar um todo-o-terreno capaz de lidar com qualquer tipo de estrada e de piso, com uma condução acessível à maioria, e indesmentíveis predicados em termos de qualidade, durabilidade e fiabilidade. E a ilustrar na perfeição essa ambição está, desde logo, o desenho exterior, domínio em que as imagens falarão por si, voltando a valer mais do que mil palavras: uma fusão entre legado, tradição e modernidade (vejam-se as aplicações nas portas, para canalizar os fluxos de ar, ou o deflector traseiro, elementos destinados a melhorar o desempenho aerodinâmico) aplicada num automóvel em que é impossível não reparar, com um porte imponente, mas, apesar disso, gracioso, e senhor de uma aparência robusta, porém, elegante e distinta.

Conjugação perfeita

Estilisticamente, o interior está em perfeita consonância com o visual exterior. A decoração consegue ser simples e refinada, o que ilustra as aptidões de modelo pronto para partir rumo à aventura, mas sem dispensar inúmeras mordomias, nem negligenciar valores caros à Toyota, por forma a que as estadias no habitáculo sejam o mais aprazíveis possível, mesmo as mais longas e duras. Espaços de arrumação não faltam; a visibilidade para o exterior é boa em todos os lugares; a ergonomia não merece reparos de maior; e até os muitos botões, na sua maioria colocados na ampla (como é tradição no Land Cruiser) consola central, estão montados no local mais correto e são de muito fácil manuseamento – atributo para que terá sido determinante o contributo dado pelos pilotos profissionais de ralis que participaram no desenvolvimento, de modo a que o manuseamento dos mais importantes e utilizados não obrigue a desviar os olhos da estrada, ou a alterar a postura ao volante.

Com tão generosas dimensões exteriores, a habitabilidade só poderia ser excelente, tanto na frente, como nos lugares traseiros, havendo ainda espaço para dois bancos adicionais montados no piso da mala, que aumentam a lotação para sete lugares (valência incluída de série no mercado português). Quanto à capacidade da mala, varia entre uns simbólicos 130 litros com todos os bancos montados e uns impressionantes 2000 litros quanto todos os de trás estão rebatidos e as costas dos dianteiros são “dobradas”.

Numa proposta de topo da Toyota, a qualidade geral só poderia ser de alto nível, aflorando o luxo, graças a materiais, na sua maioria, muito bons (macios aqueles em que se toca com maior frequência, duros e planos os aplicados nas chamadas áreas funcionais), a ótimos acabamentos, e a uma montagem perfeita, ao ponto de, mesmo nos pisos mais demolidores, serem quase impercetíveis quaisquer ruídos parasitas. A tecnologia aplicada a bordo não lhe fica atrás, provando-o o Head-Up Display com 10”, o painel de instrumentos digital (repleto de informações) e o ecrã central tátil central, ambos com 12,3” e profusamente personalizáveis, ou o novo sistema multimédia, que é do mais evoluído e completo que existe.

Muito bem-dotado

Tanto, ou mais, importante do que tudo o até aqui referido, é a dotação mecânica. Assente na nova plataforma GA-F (chassis de longarinas e travessas, com rigidez aumentada face ao anterior, ao qual é fixada a carroçaria), o Land Cruiser 250 recorre (na Europa, pois noutras latitudes estão disponíveis mais motorizações) a um tetracilíndrico turbodiesel de 2,8 litros, mecânica capaz de debitar 204 cv e 500 Nm, binário constante entre as 1600-2800 rpm – a partir de 2025, esta unidade será disponibilizada numa variante “mild hybrid” a 48 V. Estando a transmissão a cargo de uma nova caixa automática de 8 velocidades, 25% mais rápida, com caixa de transferências (“redutoras”), relações mais curtas, e um novo conversor de binário mais compacto, com uma embraiagem de bloqueio de pratos múltiplos, para uma sensação mais direta; e de um sistema de tração integral com diferencial traseiro de bloqueio eletrónico, e diferencial central mecânico totalmente bloqueável (quando não, tem uma repartição estática de 40/60, automaticamente variável em função das condições de condução).

Para enfrentar as agruras do todo-o-terreno, conte-se, ainda, com uma robusta suspensão traseira por eixo rígido, com taragem dos amortecedores revista (para maior estabilidade no fora de estrada, sem perder capacidades em termos de cruzamento de eixos), braço de guiamento lateral e barra estabilizadora; com uma suspensão dianteira por duplos triângulos, com barra estabilizadora desconectável até aos 30 km/h (aumenta em 10% o curso das rodas, e em 50 mm a articulação do eixo); e com vários auxiliares eletrónicos. Sejam os modos de condução específicos disponibilizados pelo sistema Multi Terrain Select (Dirt, Sand, Mud, Deep, Rock e Auto); seja o controlo de descidas DAC (possível de ativar tanto em “altas” como em “baixas”, pode funcionar entre os 4 e os 30 km/h); seja o sistema Crawl (disponível apenas quando as “redutoras” estão ligadas, mantém a velocidade entre cinco patamares – 1 a 5 km/h – elegíveis pelo condutor, e, à semelhança do DAC, mas nas subidas, permite evoluir no “TT” atuando apenas sobre a direção).

Condução sem medos

Enfim ao volante do novo Land Cruiser 250, ao longo de dois dias, cerca de 300 km, e, não raro, a mais de 2200 m de altitude, a Toyota preparou, sem receios, um exigente percurso que visou, principalmente, comprovar o potencial no todo-o-terreno. Isto porque o tempo passado no asfalto não só foi relativamente curto, como as condições de circulação na via pública, típicas de Marrocos, como habitualmente, não foram de molde a poder avaliar-se em pleno as respetivas competências nestas circunstâncias. Ainda assim, seja qual for o modo de condução eleito (Eco, Normal ou Sport), referência para o muito elevado conforto de marcha (embora o motor seja sempre audível, principalmente quando sob maior carga, ou a regimes mais elevados), para a boa precisão da direção assistida eletricamente, e para um comportamento surpreendentemente eficaz, tendo em conta os quase cinco metros de comprimento e as mais de 2,5 toneladas de peso.

Fora de estrada, em traçados que incluíram praticamente todo o tipo de obstáculos e situações de exigente superação, o Land Cruiser 250 mostrou-se exemplar. O motor tem força suficiente para satisfazer seja que solicitação for; a caixa automática secunda-o na perfeição (e até pode sempre ser comandada manualmente através do seletor, lamentando-se, apenas, que no sentido oposto ao que a lógica manda, isto é, desmultiplicando para a frente, e reduzindo para trás…); e a tração integral, as suspensões, e os auxiliares de condução eletrónicos combinam-se com enorme mestria para tornar, aparentemente, fácil aquilo que, na realidade, está ao alcance de poucos.

Motor com força suficiente para satisfazer seja que solicitação for

Fosse a lidar com acentuadas pendentes, tanto no sentido ascendente como descente; a ultrapassar “regueiras” que obrigavam a acentuados cruzamentos de eixos; a passar sobre pedras e rochas, algumas de não pequeno tamanho; a enfrentar cursos de água, que exigiam tração adicional sobre seixos, pedras, rochas e piso molhado; a superar desníveis que exigiam o máximo do curso das suspensões; ou a suportar ritmos mais acelerados em estradões onde as pedras afiadas exigiam cuidados redobrados com os pneus – o Land Cruiser 250 tudo suplantou com assinalável mérito. E, no limite, lá estavam as câmaras a projetar, no ecrã central, diversas panorâmicas do exterior do veículo em alta resolução, reduzindo, notoriamente, a possibilidade de erro humano.

Numa época em que o mercado automóvel está cada vez mais inundado de Sport Utility Vehicle (SUV), é bom saber que ainda existe quem acredite, como os responsáveis da Toyota, haver espaço para os verdadeiros TT e a aventura – e, dentro do género, o Land Cruiser 250 é, sem dúvida, um dos melhores modelos da atualidade. O problema poderá ser adquiri-lo. E, curiosamente, no caso português, não será tanto pelo pouco acessível preço de 154.950 €, já que, entre nós, apenas é comercializada a versão de sete lugares com nível de equipamento de topo VX-L, em que nada falta, e apenas são opções as pinturas metalizada (1000 €) e metalizada especial (1250 €). Será mais pela reduzida quota de unidades atribuída ao mercado nacional, ditada pelas novas normas europeias de proteção ambiental: as cinco unidades da série especial First Edition destinadas ao nosso País (3000 outorgadas à Europa) esgotaram num ápice, e o mesmo aconteceu com as restantes 10 disponíveis até final do ano, e mesmo para 2025 é seguro que o número de encomendas superará, em muito, o de exemplares disponíveis para venda…