Quase um ano depois das versões a gasolina e híbrida, lançamento em Portugal do Kauai totalmente elétrico da nova geração. Em teste, a versão mais acessível, e mais equilibrada da gama em (quase) todos os domínios
À venda em Portugal, desde o verão de 2023, nas derivações a gasolina e híbrida, o Kauai da nova geração está, enfim, disponível entre nós em versão 100% elétrica, por sinal, a que esteve na génese do desenvolvimento do modelo. Mas não deixa de chegar em boa altura, para mais em duas variantes, sendo a mais acessível, aqui em análise, a que deverá assegurar o grosso das vendas no mercado luso.
Importará começar por reter que, além da motorização, outros elementos há a distinguir o Kauai totalmente elétrico dos restantes. Desde logo, no exterior: luzes de circulação diurna e farolins Pixelated Seamless Horizon (horizontais contínuos); para-choques dianteiro com secção inferior específica; gráficos pixelizados na grelha fechada e no para-choques traseiro; e guarda-lamas na cor da carroçaria. E se a originalidade da iluminação é o que mais contribui para o visual futurista, a que a maioria não fica indiferente, igualmente digna de nota é a eficácia aerodinâmica, comprovada por um Cx de apenas 0,275.
Assente na nova plataforma K3, o Kauai da segunda geração também cresceu o suficiente para se posicionar no topo do segmento B-SUV (ou, preferindo-se, na base do C-SUV): 175 mm em comprimento, 25 mm em largura, 20 mm em largura, e 60 mm entre eixos. Daí também advindo mais espaço para pernas atrás (na razão direta do aumento da distância entre eixos), e uma bagageira, com duplo piso, cuja capacidade aumentou 105 litros, variando, agora, entre 466-1300 litros.
De resto, o habitáculo não muda muito relativamente ao conhecido dos restantes Kauai, a não ser pelos menus e informações relacionados com a motorização elétrica, e pela estreia da função de streaming Amazon Music (sem custos adicionais de dados). Mantendo-se intocados a apreciável qualidade geral, real e percebida, que se deve mais ao rigor montagem, e à perfeição dos acabamentos, do que, propriamente, à nobreza dos materiais utilizados; a generosa dotação de sistemas avançados de assistência à condução; e a evoluída interface “homem-máquina”, a cargo de dois ecrãs de 12,3” unidos de forma a parecerem um só (painel de instrumentos digital á esquerda, monitor tátil à direita, para comando de um não menos completo sistema de infoentretenimento, já capaz de receber atualizações remotas).
Opção (mais) racional
Entre as duas versões 100% elétricas do novel SUV da Hyundai, a escolha mais racional será, porventura, a aqui em avaliação, e não só devido ao preço mais acessível. Animado por um motor dianteiro de 156 cv e 255 Nm, e com bateria de 48,4 kWh de capacidade útil, dinamicamente, o Kauai EV 49 kWh Premium cumpre com brio o exigível de um modelo com a sua vocação, a não ser que com ele se pretendam realizar viagens mais longas. Mas já lá iremos…
Antes disso, sublinhe-se que, desfrutando de um posto de condução elevado, mas muito correto e ergonómico (o manípulo comando da transmissão passou a estar montado na coluna de direção, para libertar espaço na consola central), quem estiver ao volante dificilmente não apreciará a resposta ao acelerador pronta, mas suave, e fácil de dosear, assim como acelerações e recuperações mais do que suficientes para satisfazer as exigências de uma utilização familiar, graças a valores de potência e binário q.b. para o efeito. Ou seja, ao contrário do que tantas vezes acontece nos elétricos da nova geração, em que um rendimento excessivo tende não só a colocar em causa a autonomia, como a capacidade do eixo motriz em colocar no chão toda a potência disponível, aqui, tudo se processa de forma tranquila, sem perdas de motricidade, nem falta de desembaraço no tráfego urbano, ou mesmo em estrada aberta.
Para mais, as ligações ao solo foram nitidamente afinadas no sentido de garantir um elevado conforto, o que é conseguido com assinalável competência, embora, nas irregularidades mais acentuadas (como tampas desniveladas), alguma predominância da mola sobre o amortecedor leve a suspensão ao batente, e agite um pouco os ocupantes. Mas nada impedindo que o comportamento seja são e previsível, pautado por uma boa estabilidade a velocidades mais elevadas, e por um eficaz controlo dos movimentos da carroçaria, fazendo deste um automóvel sempre muito fácil agradável e seguro de conduzir – ainda que, caso se imponham ritmos que não são, de todo, a sua vocação, venham ao de cima o binómio peso de 1615 kg/ macieza do amortecimento (a não favorecer trocas de apoio mais intempestivas), o tato do pedal de travão um pouco artificial, e a direção precisa mas pouco informativa. Decididamente a rever, o equipamento pneumático, não pela medida (215/30R17), mas pela performance pouco convincente, principalmente à chuva, dos Nexen NFera Primus montados de série (saudade, por exemplo, dos Michelin Pilot Sport 4 que já conduzimos montados no Kauai da anterior geração…).
Horizonte definido
Quanto à autonomia, sublinhe-se, desde já, que uma carga completa da bateria demora cerca de 40 minutos num posto a 100 kW, ou 4h00 a 11 kW. Dito isto, entre recarregamentos, o Kauai EV 49 kWh Premium cumpriu, em condições reais de utilização, 384 km em estrada, 239 km em autoestrada e 348 km em cidade, para uma autonomia média ponderada de 324 km, não muito distante dos 374 km anunciados no ciclo WLTP. Daqui se inferindo que as viagens mais longas deverão ser devidamente planeadas, e levar em conta paragens relativamente frequentes para carregamento (até porque “distrações” com o pedal da direita facilmente levam a que a autonomia fique aquém dos 200 km em autoestrada).
O habitat natural são os trajetos urbanos e suburbanos
Está bom de ver que o seu habitat natural são os trajetos urbanos e suburbanos (sugere-se, aqui, a seleção do modo de condução Eco, pois os Normal e Sport aumentam a sensibilidade de acelerador, com óbvias consequências para a autonomia, e o Snow é recomendado para condições de aderência precárias), tanto mais que as cinco possibilidades de seleção, através das patilhas no volante, para a intensidade da regeneração de energia em desaceleração (1,2,3, i-Pedal e Auto), quando bem utilizadas, permitem incrementar de forma substantiva a autonomia em percursos com maiores variações de velocidade, mormente em cidade, em que o modo i-Pedal até permite conduzir apenas com o acelerador em boa parte das situações. Já para chegar mais longe, a versão ideal será o Kauai 66 kWh Vanguard, não por oferecer 217 cv (o binário máximo é o mesmo), mas porque incrementa em cerca de 50% a autonomia (bateria de 65,4 kWh) – há é que investir um pouco mais de 5.000 € adicionais.
Porventura o mais equilibrado dos atuais Kauai elétricos, no plano comercial, como em termos de condução, o Kauai EV 49 kWh Premium evoluiu de forma evidente em praticamente todos os domínios, inclusive no do equipamento de série, em que nada falta de essencial. Algo que só poderia levar a uma considerável subida de preço: 43.490 € (39.499 € com campanha de financiamento da marca, 32.990 €+IVA para empresas), ou seja, quase 7.000 € mais que o anterior Kauai EV de 136 cv e bateria de 39 kWh.
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