Leiters substitui Blume na Porsche
- José Caetano

- 20 de out.
- 3 min de leitura
Oliver Blume, 57 anos, não resistiu aos maus resultados da Porsche, fabricante que passou de joia da coroa da indústria automóvel alemã a empresa problemática em apenas dois anos, como demonstram o abandono do Mundial de Resistência (WEC) em 2026, devido ao custo do programa desportivo, ou o anúncio sob a forma de alerta do dia 19 de setembro.

Então, comunicou-se que a margem de lucro deste ano, na hipótese mais otimista, seria de 2%, devido a combinação de fatores com impactos negativos nos resultados, do abrandamento muito expressivo das vendas de carros novos na China ao aumento das taxas aduaneiras nos EUA e à marcha atrás no processo de eletrificação, decisão com custo avaliado em cerca de 1,8 mil milhões de euros.
E, assim, confrontada com esta situação e pressionada pelos acionistas, a administração da Porsche, sem surpresa, decidiu mudar de liderança. A 1 de janeiro de 2026, Oliver Blume, depois de 10 anos ao leme de fabricante que perdeu 50% do valor em bolsa desde 2022 e, por isso, perdeu, também, o título (invejado) de construtor europeu mais valioso, abandonará a direção executiva e a presidência do conselho de administração, e poderá concentrar-se apenas no Grupo Volkswagen, que comandará durante mais cinco anos, até 2030. O alemão acumulava estas funções há três anos. O sucessor chama-se Michael Leiters e foi contratado à divisão automóvel da McLaren.
Leiters, 54 anos, não é nome novo na Porsche. O alemão trabalhou no fabricante de 2000 a 2013 e comandou o programa de desenvolvimento do primeiro Cayenne Hybrid antes de assumir a liderança das duas gamas de Sport Utility Vehicles (SUV), os produtos por detrás do sucesso financeiro que permitiu a manutenção da produção do automóvel mais emblemático da marca, o 911. Depois, de 2014 a 2022, este engenheiro comandou o departamento tecnológico da Ferrari e participou na criação de diversos superdesportivos muitíssimo bem-sucedidos do construtor de Maranello, nomeadamente nos primeiros equipados com motores de combustão apoiados por motores elétricos. A 1 de julho de 2022, por fim, assumiu a direção executiva da McLaren, cargo que abandonou, premonitoriamente, em abril.

Em Itália e Inglaterra, o alemão também foi obrigado a trabalhar em planos de reestruturação. Na Alemanha, como prioridades imediatas, repensar o plano de investimentos em carros novos e motorizações elétricas e eletrificadas, e eliminar quase 4000 postos de trabalho. Na Ferrari, Leiters trabalhou nos programas dos primeiros dois híbridos da marca de Maranello, o SF90 Stradale e o 296 GTB (é-lhe creditada, também, participação no arranque dos projetos Purosangue e Ellectrica). Na McLaren, que não foi capaz de recuperar como ambicionava, devem-se os lançamentos do 750S e do Artura, por exemplo, mais a criação das bases para a produção do primeiro SUV.
Wolfgang Porsche, Presidente do Conselho de Administração da Porsche AG, explicou esta escolha. “Tem muitas décadas de experiência na indústria automóvel. O estilo de liderança e o conhecimento técnico são pré-requisitos essenciais para ser bem-sucedido numa empresa que conhece bem”, disse. O mesmo responsável agradeceu e elogiou o contributo de Blume. “Assumiu o comando em tempos difíceis e fê-lo com competência, responsabilidade e resultados”, concluiu.

Blume, na hora do adeus, recordou o percurso de 10 anos na Porsche e reconheceu que as mudanças no automóvel exigem “sangue novo” no comando da empresa. “Mudanças significativas nos nossos maiores mercados, a China e os EUA, tiveram impactos negativos no nosso modelo de negócio. Por isso, já este ano, iniciámos programa de reestruturação e adaptámos a estratégia de produto. Deixo a companhia preparada para o futuro. Mantenho-me no grupo e pretendo continuar a acompanhar esta marca”, concluiu.
O maior fabricante europeu, apenas na Alemanha, ambiciona eliminar 35.000 postos de trabalho até 2030. Para os analistas, a mudança no comando da marca antecipava-se. E os acionistas aplaudiram. “Finalmente, reagiu-se às críticas, e reagiu-se bem”, disse Hendrick Schmidt, da DWS, entidade que detém participação importante no capital do construtor. Em bolsa, depois deste anúncio, valorização das ações tanto da Porsche (1,2%) como do Grupo Volkswagen (1,7%).











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