Mercedes pessoal de Senna vai a leilão
- Pedro Junceiro

- 26 de ago.
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Embora a sua carreira nunca tenha passado pela Mercedes-Benz, a marca alemã também não escapou aos interesses de Ayrton Senna, que chegou a ter um 190 E 2.3-16 como automóvel particular. Essa unidade será em breve leiloada pela RM Sotheby’s, em Inglaterra, prevendo-se que possa ser arrebatada por valores acima dos 250 mil euros.

O primeiro ano de Ayrton Senna na Fórmula 1, em 1984, é recordado pelo brilharete à chuva no GP do Mónaco e pelos dois pódios (um dos quais em Portugal) com um Toleman-Hart que estava longe de ser dos monolugares mais competitivos do pelotão. Mas, ainda antes do seu pódio na modalidade, o piloto brasileiro começou a chamar as atenções pelo seu desempenho numa corrida que reuniu alguns dos nomes mais sonantes da época do automobilismo, no Nürburgring, em maio de 1984.
No papel, era a conjugação perfeita: o regresso do circuito de Nürburgring à Fórmula 1 após uma ausência de vários anos e o lançamento do Mercedes-Benz 190 E 2.3-16 permitiram à marca alemã organizar uma corrida no traçado completamente novo – bastante mais curto e seguro – com alguns dos melhores pilotos de sempre da Fórmula 1 ao volante de 20 das novas berlinas.

Um dos pilotos que ajudou a organizar a corrida foi Niki Lauda, piloto que quase perdeu a vida num acidente no traçado “velho” de Nürburgring em 1976, tendo chamado outras figuras como Carlos Reutemann, Stirling Moss, Jack Brabham, Alan Jones e Alain Prost. Tratando-se de um piloto com apenas quatro Grandes Prémios no currículo àquela data, Senna não fazia parte dos planos iniciais, mas foi chamado para substituir Emerson Fittipaldi, que preferiu participar na qualificação para as 500 Milhas de Indianápolis. Juan Manual Fangio, então o piloto com mais títulos na categoria (cinco) também marcou presença, não ao volante, mas na entrega do troféu final.
Os 20 carros da Mercedes estavam praticamente de série e contavam com ligeiras modificações para oferecerem maior segurança – sistema de escape e suspensão revistos, discos de travão dianteiros melhorados, bancos de competição Recaro com cintos de seis pontos, extintor, “roll cage” no habitáculo e pneus Pirelli de competição ligeiramente maiores. O de Senna tinha o número “11”.
Na qualificação, o brasileiro fez o terceiro melhor tempo e na corrida tratou de demonstrar o seu talento em piso molhado, vencendo a prova à frente de Lauda e de Reutemann.

Um exemplar na garagem
Essa experiência terá sido suficiente para que Senna quisesse ter uma unidade também na sua garagem, encomendando então um 190 E 2.3-16 (e volante à direita), tendo-lhe sido entregue em outubro de 1985. Entre uma extensa lista de opções de fábrica escolhidas por Senna, o carro é oferecido com os seus livros e manuais originais, extintor, sistema de som Becker, kit de ferramentas, carregador de bateria e kit de primeiros socorros fechado.
Esta unidade da Mercedes tem sido mantida em condições exemplares, com a RM Sotheby’s a dispor de vários documentos originais que comprovam a aquisição do carro e também a sua utilização por parte de Senna, incluindo a declaração aduaneira com recibo de pagamento dos impostos após o desembarque do “ferry” proveniente de Calais.
Senna desfrutou do carro durante dois anos, com cerca de 24.862 milhas (pouco mais de 40.000 km) registadas na última fatura de manutenção antes de o Mercedes-Benz ser vendido a Robin Clark, de Wiltshire, em novembro de 1987, como amigo do empresário de Senna, Julian Jakobi. A venda foi feita em antecipação à contratação de Senna pela McLaren, o que resultaria na sua mudança do Reino Unido para o Mónaco.

Em agosto de 1996, o carro foi adquirido pelo proprietário consignante enquanto vivia no Reino Unido, tendo requisitado a matrícula privada “B15ENA”, que o vendedor manteve em retenção e que poderá ser comprada separadamente pelo licitante vencedor.
A unidade seguiu o seu proprietário para a Austrália após este emigrar em 2004. Para cumprir as leis de importação australianas relativas às normas de emissões, o sistema de ar condicionado foi desativado, mas pode ser restaurado pelo próximo proprietário. O carro foi cuidadosamente mantido durante o seu tempo na Austrália, como comprovam as muitas faturas e recibos arquivados. Atualmente, o odómetro marca 154.302 milhas (cerca de 248.000 km).

Para tornar este modelo ainda mais carismático, o compartimento do motor foi assinado em 2016, durante o GP da Austrália, por Niki Lauda, então ligado à Mercedes.
Agora, será leiloado em Londres, no Reino Unido, com a leiloeira a esperar um valor entre as 220 mil libras e as 250 mil libras (cerca de 290 mil euros), atendendo ao “pedigree” desta unidade.



























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