Europa “salva” motor de combustão
- José Caetano
- há 11 horas
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A Comissão Europeia (CE) recuou na decisão de proibir o comércio de automóveis novos com motores de combustão interna a partir de 2035, salvando-os, por isso, da extinção no continente. Esta flexibilização nas metas de redução das emissões de CO2, de 100% para 90%, comparativamente a 2021, integra pacote de medidas de apoio a indústria sob pressão que também impõe o cumprimento de regras.

A decisão antecipava-se: a União Europeia (UE), através da CE, tem plano novo de apoio à indústria automóvel que representa “marcha atrás” na proibição da venda motores de combustão interna a partir de 2035, decisão adotada a 28 de março de 2023. E este recuo deve-se à adesão mais lenta do que o esperado à eletrificação, devido aos custos da tecnologia e as dúvidas sobre as autonomias. Somam-se os problemas com os atrasos na implementação das infraestruturas para carregar as baterias.
Se a CE não recuasse, em 2035, motores térmicos banidos dos automóveis novos à venda nos estados-membros da UE. Todavia, a proposta apresentada esta terça-feira, 16 de dezembro, pelo órgão comandado pela alemã Ursula von der Leyen, se for mesmo adotada, abre a porta à manutenção da tecnologia dominante há mais de 100 anos, por diminuir a obrigação de redução das emissões de CO2, no frente a frente com os níveis registados em 2021, de 100% para 90%, sob o compromisso de compensação dos 10% remanescentes com biocombustíveis ou combustíveis sintéticos, ou aço verde (baixo teor de carbono) produzido na Europa.

Alemanha aplaude decisão
O pacote de apoio à indústria automóvel admite que os fabricantes de automóveis recorram a uma diversidade enorme de tecnologias que diminuem as emissões de CO2, sobretudo mecânicas de combustão interna muitíssimo eficientes, híbridos, híbridos Plug-In ou sistemas de extensão da autonomia. O plano será apresentado ao Parlamento Europeu (PE) e ao Conselho apenas em 2026. Stéphane Sérjourné, vice-presidente executivo da CE, manifestou-se (muito) confiante na possibilidade de “acordo rápido”. O chanceler alemão Friedrich Merz, adepto do recuo, uma vez que o regulamento aprovado em 2023 estava a pressionar, fortemente, a indústria do país, elogiou a decisão.
A Associação dos Fabricantes Europeus de Automóveis (ACEA) também aplaudiu iniciativa que admite, e bem, a “necessidade de mais flexibilidade e neutralidade tecnológica para o sucesso da transição energética. Este pacote representa uma mudança, mas temos de estudá-lo com atenção, pois o diabo pode encontrar-se nos detalhes”, disse Sigrid de Vries, diretora-geral da organização. “Se não houver flexibilidade nas metas para 2030, o impacto da decisão para 2035 será limitado”, concluiu.

E-CAR sem luz verde
Os fabricantes europeus, apoiando-se nos números das vendas de carros novos – nos primeiros 10 meses deste ano, na EU, os automóveis elétricos representaram 18% dos registos –, dizem que a (ex-)meta para 2035 é irrealista e as multas para o incumprimento das metas de CO2, sem marcha atrás no regulamento, ascendem a milhares de milhões de euros. Esta proposta da CE permite que os construtores reavaliem os investimentos e considerem, também, os combustíveis sustentáveis e os sistemas híbridos mais eficientes.
A CE não chegou a acordo sobre o apoio à produção do “E-CAR” (carros elétricos acessíveis e pequenos), mas satisfez outra proposta apoiada, principalmente, por Renault e Stellantis: alívio das metas de emissões de CO2 nos comerciais ligeiros. Ursula von der Leyen & Cia. recusaram propostas inscritas “nas listas de desejos” da indústria, e o recuo nas metas para 2035 é criticado pelos fabricantes que mais investiram na mudança do paradigma tecnológico, nomeadamente a Volvo. E, por fim, também houve quem afirmasse que não seria a continuidade dos motores de combustão interna que salvaria a grandeza dos construtores europeus, sobretudo no confronto direto com os concorrentes chineses.



